A Estratégia Saúde da Família foi instituída pelo Ministério da Saúde para reorganizar a Atenção Básica à Saúde no Brasil, promovendo a proximidade dos serviços de saúde às comunidades. Este modelo visa substituir o enfoque fragmentado e médico-centrado por uma abordagem integral e contínua, proporcionando um primeiro contato mais eficiente dos indivíduos com o Sistema Único de Saúde. No entanto, desafios persistem, especialmente no contexto das populações do campo, que enfrentam barreiras significativas no acesso à saúde. O objetivo deste estudo foi analisar os desafios enfrentados pela população do campo no acesso à saúde no contexto da Atenção Básica à Saúde, sobretudo em uma Unidade Básica de Saúde na região rural de Planaltina, Distrito Federal. A metodologia qualitativa e exploratória-descritiva combina relato de experiência e reflexão teórica, vivenciados no Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família com Ênfase na Saúde da População do Campo, desenvolvido pela Escola de Governo Fiocruz. Foram utilizados revisão bibliográfica e análise de registros de campo, focando nas dimensões de acesso definidas por diferentes referenciais teóricos. A análise revelou que as populações do campo enfrentam dificuldades expressivas no acesso aos serviços de saúde. Entre os principais desafios estão a escassez de unidades de saúde em áreas rurais, as longas distâncias percorridas sem transporte público adequado e a infraestrutura inadequada dos serviços de saúde. Muitas pessoas usuárias precisam caminhar mais de 10 km para acessar serviços básicos de saúde. A infraestrutura das unidades de saúde frequentemente não atende as necessidades de pessoas com mobilidade reduzida, e os horários de funcionamento das unidades não são compatíveis com as rotinas de trabalho das populações campesinas. Apesar dos objetivos de equidade em saúde da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta, sua implementação enfrenta desafios devido à falta de recursos e coordenação intersetorial. Contudo, a presença de programas de residência multiprofissional contribuiu para melhorias significativas, como a reorganização dos serviços ofertados, promovendo um atendimento mais acessível e eficiente. Conclui-se que a Estratégia Saúde da Família desempenha um papel fundamental na promoção da equidade e universalidade da assistência à saúde, mas enfrenta desafios significativos na sua implementação, especialmente em áreas rurais. Este estudo destaca a necessidade de políticas públicas integradas que considerem as especificidades das populações do campo. A integração de conceitos como acolhimento, vínculo e cuidado continuado é essencial para desconstruir o modelo biomédico e promover um cuidado mais humanizado e integral. Além disso, a presença de programas de residência multiprofissional mostra-se promissora na superação de barreiras de acesso, mas também é imperativo a existência do compromisso contínuo de gestores, profissionais de saúde e comunidade para garantir o direito à saúde para todas as pessoas, ou seja, na garantia de um Sistema Único de Saúde do tamanho do povo brasileiro.