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Em 2022 comemoramos o centenário do nascimento do compositor Gilberto Mendes e o 18º Encontro MusiMid tem como objetivo promover discussões aprofundadas no que diz respeito à trajetória artística do músico, às suas poéticas artísticas e de seu modo de entender e se relacionar com o mundo, aos diálogos intersemióticos presentes em sua própria obra, assim como às leituras e aos desdobramentos dessa mesma obra na produção de artistas contemporâneos.

Durante sua trajetória, Gilberto Mendes transitou entre propostas artísticas modernistas diversas, fato que fez com que ele se considerasse, antes de tudo, um compositor “transmoderno”. Sua vida, seus gostos e suas invenções foram pautados nas aventuras estéticas e políticas possíveis dentro de seu tempo histórico e seu ambiente cultural, agitados pelas vanguardas e seus limites. Nesse sentido, Gilberto era um artista inventor – alguém que inventava sonoridades, novas concepções de música e dialogava com a literatura e com o teatro para a produção do que ele chamava de signo novo.

Nessa tarefa de inventar e imaginar signos novos, desenvolveu-se sua trajetória artística, política e pessoal. Gilberto Mendes queria criar novas linguagens e novos mundos, transpor fronteiras estéticas e políticas, imaginar novas sensibilidades auditivas e políticas e lutar por outras possibilidades de existência, menos desiguais e mais humanas.

Sua longevidade lhe permitiu vivenciar muitos momentos diferentes da cultura brasileira e mundial, fato que se reflete em sua pluralidade estética. É Gilberto Mendes quem diz que se considerada, no mínimo, três compositores, transitando entre aquele de formação clássico-romântica, apaixonado por Schumann, Brahms e outros, o experimentador vanguardista que gerou algumas de suas obras mais icônicas, e outro popular, que dialogou tanto com a frente nacionalista quanto com a música de cinema. E ainda um quarto compositor, misturando todos esses. É o que se ouve na música de Gilberto Mendes: a trama entre a tradição, o signo novo e a música popular, o delicioso encontro de Ulysses em Copacabana Surfando com James Joyce e Dorothy Lamour, ou a improvável conciliação entre dois protagonistas da música do século XX caminhando pelos Mares do Sul (Um Estudo? Eisler e Webern Caminham nos Mares do Sul). O intelectual preocupado com as questões políticas de seu tempo sem renunciar ao rigor formal, mesmo quando parece não estar fazendo nada além de uma brincadeira, como em O Último Tango em Vila Parisi.

Santista de berço e de coração, escolheu uma cidade para viver e para amar, mas não se restringiu a ela: sua arte dialogava com a arte internacional e suas músicas foram tocadas ao redor do mundo, fazendo reverberar o imaginário desse Ulisses caiçara, sempre de volta a sua Ítaca-Santos. Era um viajante e com isso alimentava diretrizes para que suas criações fossem cosmopolitas, como ele.

Chegado seu centenário, é tempo de prestar uma justa homenagem a este que foi um mestre tão generoso, além de redimensionar sua importância para a música e a cultura brasileira.

 

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Coordenação geral: Heloísa de A. Duarte Valente e Fernando Magre.

Comitê Científico e organização: Carla Delgado de Souza, Diósnio Machado Neto, Rita de Cássia Domingues dos Santos, Fernando Magre, Rafael Righini, Raphael F. Lopes Farias, Yuri Behr.

Arte: Roberto Bispo.
Vídeo: André Felipe Gevaerd
Equipe transmissão: Fernando Pedro de Moraes (coordenação geral), Celso Marques, Chrystian Silva de Matos Gomes, Daniel Trevisan, Roberto Bispo dos Santos, Saint-Clair "Kezo" Nogueira