O objetivo do paper é refletir sobre o laboratório como organização à luz da teoria do ator-rede e dos estudos críticos em Administração. Essa aproximação permite desnaturalizar as organizações como dadas, trazendo à tona os complexos processos pelos quais o laboratório toma forma, a partir do controle de incertezas e instabilidades, da articulação entre diferentes atores e das estratégias voltadas à transformação de elementos dispersos em uma lógica coerente, passível de ser apresentada como conhecimento científico. A investigação teve como objeto empírico inicial uma universidade pública federal localizada em Minas Gerais, em que pesquisas com/sobre cannabis são desenvolvidas na área agronômica. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com pesquisadores/as da universidade, além de observação participante em laboratórios de pesquisa. Como principais resultados, argumentamos que a pesquisa permitiu desnaturalizar as organizações como dados estáveis e perenes, indicando as múltiplas estratégias de tradução/translação voltadas à estabilização de uma rede de atores que envolve além de seres humanos (pesquisadores/as) com interesses, status e formações profissio nais diferentes e até conflitantes , atores não-humanos, como as plantas de cannabis, os equipamentos, estruturas físicas dos laboratórios analisados, que terminam por constranger a instrumentalidade suposta/idealmente presente em investigações científicas, voltadas ao controle do meio/contexto/aleatoriedade, de forma a produzir conclusões válidas e amplamente aceitas. Além disso, a pesquisa com/sobre cannabis ilumina aspectos éticos e políticos relacionados à criminalização da planta, que dificulta o desenvolvimento de pesquisas sobre o tema e requer o engajamento de diferentes atores para sua viabilização, muitos deles não cientistas, como aqueles vinculados, por exemplo, ao poder judiciário e ao mercado.
Comissão Organizadora
Comissão Científica