No último decênio, instituições financeiras internacionais têm aprofundado as discussões sobre a implantação de diretrizes temáticas da alfabetização financeira em países do G20. Por alfabetização financeira, entende-se a combinação de consciência, conhecimento, habilidades e comportamentos financeiros necessários para tomar decisões econômicas sólidas que permite ao indivíduo alcançar o bem-estar financeiro. Sob esse discurso, o Brasil implementou, em 2010, a Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), objetivando a oferta do conhecimento financeiro para alunos da educação básica. Porém, um desafio à implantação do ensino financeiro nas escolas deve-se aos distintos contextos socioeconômicos que o país possui. Dentro dessa realidade, a modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA), formado por um público de idade mais avançada, requer uma atenção diferente, pois o ensino não deve se restringir a ensinamentos de tecnicidades ou abstrações do mercado financeiro. Considerando estas discussões, tem-se como objetivo apreender a representação social da alfabetização financeira de estudantes da modalidade EJA. A abordagem das representações sociais segue aqui o entendimento de Moscovici (1984, p. 251), o qual a compreende como “a elaboração de um objeto social pela comunidade com o propósito de conduzir-se e comunicar-se”. Nesse sentido, o uso dessa abordagem busca compreender o imaginário social acerca da alfabetização financeira a fim de identificar significados que a ela subjazem. Para tanto, empreendeu-se um estudo exploratório de natureza qualitativa com 75 estudantes da modalidade EJA. O estudo foi realizado durante o período de março a junho de 2023 em escolas municipais de uma cidade do Nordeste do Brasil, com alunos da modalidade da EJA 3 e 4, equivalente ao ensino fundamental; portanto, um público que não teve, em sala de aula, contato com o ensino financeiro. Para coleta de dados, utilizou-se a técnica de evocação livres de palavras, que permitiu obter um conjunto de sentenças emitidas pelos entrevistados quando eram submetidos ao estímulo da palavra indutora “alfabetização financeira”. Para a análise dos dados, utilizou-se o método Alceste para apreender a dinâmica da produção verbal mediante o uso do software IRAMUTEQ. Como resultado, os dados analisados possibilitaram evidenciar quatro categorias, sendo elas: i) endividamento, que reflete o campo das vivências ao representar as obrigações de se ter dívidas; ii) conhecimento financeiro, que articula os discursos relacionados ao ensino financeiro em escolas; iii) habilidade financeira, refletindo o papel planificador que é exigida a este público, uma vez que são administradores de seus próprios recursos; iv) financeirização da vida, a qual organiza sentenças como autocontrole, economizar, planejar e investir, traduzindo os discursos considerados “adequados” pelo mercado que devem ser postos em prática para alcançar o bem-estar. Destarte, a compreensão de singularidades da alfabetização financeira para o grupo da EJA permite concluir que um plano nacional de ensino financeiro deve conceber todo o ambiente socioeconômico no qual as pessoas estão inseridas. Jovens da EJA já possuem uma vivência financeira em seus cotidianos e, portanto, o ensino não deve se limitar ao ensino abstrato e economicistas da alfabetização financeira. Ao nível prático, a transferência de conhecimento deve ser acompanhada pelas vivências cotidianas dos estudantes.
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