Este trabalho aborda a questão da diversidade racial no ambiente empresarial brasileiro, concentrando-se em empreendedores negros cujas iniciativas podem ser categorizadas como negócios sociais. Apesar das desigualdades raciais existentes no Brasil, têm-se observado um aumento no número de empreendedores negros no país. Isso sugere que o empreendedorismo se tornou uma estratégia de enfrentamento da exclusão e da pobreza para a população afro-brasileira. No entanto, a falta de estudos abordando essa temática já foi identificada na literatura. Para preencher essa lacuna, foi realizado um estudo estruturado a partir da seguinte pergunta de pesquisa: Como empreendedores negros que estabeleceram negócios sociais experienciam as tensões entre a dimensão sociopolítica de suas iniciativas, representada pelo ativismo em torno da questão racial, e a necessidade de estruturar suas empresas para gerar resultados econômicos? Para responder a essa pergunta, foi conduzida uma investigação de caráter exploratório e de natureza qualitativa, envolvendo entrevistas em profundidade com empreendedores negros que lideram negócios sociais focados na diversidade racial. Estas entrevistas tiveram como objetivo reconstruir aspectos das histórias de vida dos empreendedores e mapear suas experiências à frente dessas iniciativas. Os resultados revelaram que os entrevistados estão cientes das tensões entre os aspectos sociais/políticos e os aspectos econômicos/negócios de suas iniciativas. Por um lado, eles se identificam como ativistas, embora enfatizem que seu ativismo está direcionado para o mundo dos negócios. Por outro lado, eles enfrentam desafios ao tentar se inserir em uma lógica econômica dominada pela população branca, que muitas vezes não compreende plenamente as questões raciais e de classe envolvidas em seus empreendimentos. Essa pesquisa contribuiu para preencher a lacuna referente aos estudos raciais no campo da Administração e também para a reflexão sobre as tensões entre o ativismo político e os objetivos econômicos nos negócios sociais. Além disso, aponta para o surgimento do afro-empreendedorismo como uma estratégia de afirmação identitária e de empoderamento econômico na quarta onda dos movimentos negros no Brasil pós-abolição.
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