Existe igualdade de gênero nas indústrias automotivas do Sul Fluminense?

  • Autor
  • Ana Paula Vasconcelos Gonçalves
  • Co-autores
  • Letícia F. Paes , Vitor Rodrigues Ferreira , José Ricardo Ramalho
  • Resumo
  •  

    Até os anos 90 do último século, o estado do Rio de Janeiro não havia desenvolvido uma tradição automotiva.  Contudo, a partir do Novo Regime Automotivo Brasileiro, aprovado em 1995 com o propósito de modernizar o parque industrial, acelerar o investimento e ampliar a competitividade externa do segmento automobilístico, o estado do Rio de Janeiro iniciou um processo atração deste tipo de indústrias para seu território.

    É importante destacar que a chegada de fábricas automotivas no estado ocorreu em função da revitalização da indústria deste setor no Brasil, que trouxe consigo uma nova distribuição geográfica das fábricas. Esse processo deu-se em um contexto de reestruturação espacial da indústria nacional, no qual empresas deslocaram os investimentos antes muito focados em polos industriais tradicionais, como é o caso do ABC Paulista, no setor automobilístico, para regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos (RAMALHO, 2005). Esta nova lógica espacial ocorreu devido aos incentivos fiscais que os municípios e estados concedem as empresas para se instalar em seus territórios, a existência de mão de obra qualificada, excedente e mais barata fora dos grandes centros urbanos e a presença de um sindicato mais fraco do que nas grandes metrópoles facilita acordos coletivos mais vantajosos para as indústrias.

    No estado do Rio de Janeiro, várias montadoras começaram a se instalar em seus municípios, sobretudo na região do Sul Fluminense. É nesse período que a implantação da Volkswagen em Resende, bem como a da francesa PSA-Peugeot Citröen no município vizinho (Porto Real) em 2001, marca o que pode ser considerado o princípio polo automotivo do Sul Fluminense, que figura atualmente entre os grandes centros industriais do país.

    Com localização privilegiada, entre os eixos RJ-SP, o Vale do Paraíba Fluminense abrange nove municípios: Barra Mansa, Itatiaia, Pinheiral, Piraí, Porto Real, Quatis, Resende, Rio Claro e Volta Redonda. A região, que na década de 1930 vivia a decadência do ciclo do café, até passar por uma reestruturação e modernização de sua infraestrutura entre 1940 e 1970 com a inauguração da Rodovia Presidente Dutra, construção da Academia Militar das Agulhas Negras, da Companhia Siderúrgica Nacional e entrada em operação da Usina Hidrelétrica do Funil, entra em um processo de industrialização progressiva, chegando ao estabelecimento do Pólo-Urbo-Industrial de Porto Real nos anos 90 e o pólo metal-mecânico nos anos 2000 (LIMA, 2005).

    Em 2013, os municípios de Porto Real, Itatiaia, Resende e Quatis assinaram o protocolo de criação do Consórcio Intermunicipal de Criação de Emprego e Renda[1], visando uma maior colaboração entre si. O consórcio ficou conhecido como PRIQ, e delimita os municípios Sul Fluminenses que abrigam o polo automotivo. Além de Volkswagen e Peugeot-Citröen, atualmente, o polo é composto por outras três grandes montadoras de veículos: a coreana Hyundai Heavy- Industries (Itatiaia/2013), a japonesa Nissan Motor Co. Ltda. (Resende/2014) e a britânica Jaguar Land Rover (Itatiaia/2016). Diante dessa mudança na configuração industrial da região, o Sul Fluminense vem se tornando objeto frequente de estudos sobre os impactos e arranjos que o setor automotivo constitui nas relações entre trabalhadores, empresas, sindicatos, comunidade e setor público.

    A chegada dessas fábricas na região trouxe muitas mudanças para a população, inclusive na ampliação do mercado de trabalho. Grande parte dos moradores passaram a almejar ser empregados pelas indústrias automotivas em busca de salários atrativos. Entretanto nem todos conseguem, principalmente as mulheres, pois há uma diferença acentuada entre a quantidade de trabalhadores do sexo feminino e masculino ainda hoje nas fábricas automotivas, sobretudo em cargos de engenheiro e de gestão, como já aponta a literatura sobre o tema.

    Segundo Lobo (1991), entre 1970 e 1975, a proporção de gênero no setor automobilístico era de uma mulher contratada para cada treze homens. Atualmente a falta de igualdade no setor permanece. Uma pesquisa realizada pela Automotive Business em 2018 apontou que a participação feminina em 2017 era de 17%. Dentre estas trabalhadoras, 47% estão alocadas na produção e manufatura. A diferença salarial entre os estagiários é menor, pois as mulheres tendem a ganhar somente 0.8% menos que seus colegas homens. Quanto mais as posições vão se elevando na hierarquia das fábricas, as diferenças também vão se acentuando, por exemplo, as mulheres que ocupam cargos de chefia tendem a ganhar em média 33% menos que os homens (AUTOMOTIVEBUSINESS, 2018).

     Outro aspecto que merece destaque é que a linha de montagem ainda é associada a uma atividade masculina, como Rizek e Leite (1998) discutem ao analisar as diferenças de gênero em quatro fábricas distintas. As autoras afirmam que as funções desempenhadas pelas mulheres ainda estão atreladas a habilidades como destreza, paciência e minúcia. Lapa (2018) reforça esse argumento com sua pesquisa de campo com mulheres metalúrgicas que trabalham em fábricas automotivas no ABC Paulista. Estas que ainda são minoria no chão de fábrica, sofrem preconceito, em alguns casos também sofrem assédio ao desempenharem certas funções vistas como masculinas.  Além disso, poucas funcionárias que ascenderam na carreira alcançando postos na produção ou técnicos, com a crise no setor, foram “rebaixadas” através de transferência de setor ou direcionamento ao Lay off por serem mulheres.

    Diante da importância das indústrias automotivas na geração de emprego e renda para a região e diferença de gênero existente no setor automotivo apontada por distintas pesquisas, este trabalho buscar compreender as relações de gênero nas fábricas automotivas do Sul fluminense. Para alcançar o objetivo proposto realizou-se uma análise exploratória dos dados da Relação Anual das Informações Sociais- RAIS de 2007 e 2017. O recorte temporal escolhido com o intuito de comparar os dois períodos e verificar se ocorreram alterações ao longo de uma década. A perspectiva de gênero adotada neste trabalho dá-se devido ao fato da literatura mencionar a existência de desigualdade entre os sexos nas contratações na indústria brasileira, assim como no setor automotivo. A contribuição esperada é de um panorama inicial do perfil das trabalhadoras no setor automotivo do Sul Fluminense, com possíveis caminhos de pesquisas futuras sobre gênero e trabalho.

    Os primeiros resultados encontrados indicam que as mulheres são menos contratadas na indústria automotiva, e também apontam para uma discrepância em relação ao cargos ocupados, assim como os salários recebidos entre homens e mulheres.

    Referências Bibliográficas:

    AUTOMOTIVE BUSINESS. Presença feminina no setor automotivo. Pesquisa e debates 1ª edição. São Paulo, 2018.

    LAPA, T. S. Mulheres metalúrgicas em setores predominantemente masculinos: mudanças sutis e barreiras persistentes. In 42º Encontro Anual da Anpocs, Caxambu, 2018. 

    LIMA, R. J. da. Açúcar, Cola-Cola e Automóveis: ação político-empresarial na construção de um "município modelo" em Porto Real (RJ). Dissertação de mestrado (PPGSA/UFRJ), 2005.

    LOBO; E.S. A classe operária tem dois sexos. São Paulo, Editora Brasiliense, 1991.

    RAMALHO, J. R. Novas conjunturas industriais e participação local em estratégias de desenvolvimento. Dados, 48/3, p. 491-523, 2005.

    RIZEK, C.. S.; LEITE, M. de. P. Dimensões e representações do trabalho fabril feminino. In: ABRAMO, L.; ABREU, A. R.P. Gênero e trabalho na sociologia latino-americana. São Paulo: ALAST/SERT, 1998.


    [1] Resende. Municípios assinam protocolo de Consórcio Intermunicipal de Emprego e Renda. 2013 Disponível em: http://resende.rj.gov.br/noticias/munic-pios-assinam-protocolo-de-cons-rcio-intermunicipal-de-emprego-e-renda

     

  • Palavras-chave
  • Gênero, Desigualdade, Trabalho, Sul Fluminense.
  • Área Temática
  • Trabalho, gênero e etnicidade, sob coordenação da Profa. Dra. Camila Machado Sampaio (PPGCSOC/UFMA) e Profa. Dra. Marly de Jesus Sá Dias (PPGPP/UFMA)
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Os Anais do Observatório do Mercado de Trabalho no Maranhão têm o propósito de publicar os trabalhos apresentados nos Encontros do OMT-MA, evento bianual que teve sua primeira edição realizada em julho de 2016 no Campus de São Luís da Universidade Federal do Maranhão. 

O OMT-MA é uma iniciativa do Grupo de Pesquisa Trabalho e Sociedade, vinculado ao Programa de Pós-Graduação  em Ciências Sociais da UFMA, em parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego. 

Os encontros do OMT-MA têm os seguintes objetivos:

• Debater estudos sobre o mercado de trabalho e as políticas públicas de geração de emprego e renda;

• Analisar as características regionais do mercado de trabalho;

• Incentivar pesquisas e realizar o acompanhamento periódico dos indicadores sobre o mercado de trabalho;

• Proceder à interlocução com instituições de estudo e pesquisas e centros produtores de estatísticas, cujas ações estejam voltadas para o mercado de trabalho

 

Normas para Publicação dos Artigos nos Anais

 

1. O(a) proponente deverá enviar o resumo de sua proposta (até 1.200 caracteres) no prazo estabelecido pela organização do evento.

2. Depois da aprovação do resumo, os(as) autores(as) devem enviar o trabalho completo, dentro do prazo estipulado;

3. Os trabalhos submetidos poderão ser em co-autoria de até 4 autores; 

?4. Os trabalhos serão submetidos no período determinado pelo Organização do evento com as informações de autoria, resumo e documento com artigo completo;

5. Somente serão aceitos e encaminhados para avaliação os artigos formatados de acordo com as seguintes regras:

5.1) Formatação: tamanho A4 (29,7 x 21 cm); orientação de papel: retrato; margens: superior e esquerda 3cm, inferior e direita 2cm; formatação: Times New Roman ou Arial, letra tamanho 12 no corpo do texto e espaçamento 1,5 (exceto para citações diretas longas, fontes e legendas de ilustração, fonte tamanho 10). Recuo parágrafo 1,5 (exceto citações diretas, 4cm). Mínimo de 8 e máximo 20 páginas, incluindo quadros, tabelas, gráficos, ilustrações, notas e referências bibliográficas. Paginação: canto superior direito.

5.2) Apresentação primeira página: Título e subtítulo em letra maiúscula, se houver. Resumo em português e palavras-chave. Início do texto de forma contínua.

?5.3) Resumo: deve abordar o assunto, objetivos, metodologia, resultados e conclusão; de 3 a 5 palavras-chaves, com no máximo 300 palavras e em espaçamento simples. E a palavra resumo no início em negrito.

?6) Para as referências aos autores feitas a partir de citações ao longo do texto, devem ser aplicadas as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), especificamente: NBR 10520/2002.

Destacamos que:

?6.1) As referências aos autores feitas entre parêntesis ao longo do texto devem seguir a seguinte padronização: o sobrenome do autor deverá ser escrito em caixa alta, seguido do ano da publicação e, no caso de citações literais, também o número da página da qual foi extraída. Para os casos de referências com até três autores, separar os sobrenomes com ponto e vírgula. Para acima de três autores, fazer referência somente ao sobrenome do primeiro autor seguido de “et al.” Por exemplo: (MONTEIRO, 1988); (MONTEIRO; VILHENA; CAVALCANTE, 1995); (MONTEIRO et al., 1999).

6.2) As citações literais com mais três (3) linhas deverão vir destacadas em blocos e recuadas, em fonte 10, sem aspas e espaçamento simples.

6.3) Referências: A entrada de autores nas Referências (no final do artigo) deverá ser idêntica àquela feita para as citações no texto e deverá, igualmente, seguir as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT): NBR 6023/2002.

7) Após submissão é vedada qualquer alteração, correção ou inclusão de conteúdo autoria;

?8) Os artigos serão avaliados por pareceristas, seguindo os seguintes critérios:

8.1) Adequação da área temática ao conteúdo do artigo;

8.2) Problematizarão, objetivos e métodos apresentados de forma clara e bem definidos;

8.3) Se o desenvolvimento do texto tem sustentação teórica;

8.4) Estrutura lógica e adequada a um artigo científico;

8.5) Adequação às normas de submissão;

8.6) Atualidade e relevância do estudo;

8.7) Conclusão responde ao proposto nos objetivos.

?9) Os trabalhos aprovados para apresentação oral serão divulgados pela data estabelecida pela Organização do Evento;

?10) Os autores dos trabalhos selecionados deverão, obrigatoriamente, inscrever-se no evento.

?11) A apresentação dos artigos terá duração de 20 minutos, podendo ter debate na sequência das apresentações ou ao final de todas as apresentações, conforme decidir o/a coordenador/a da sessão;

12) Os certificados de apresentação de trabalhos serão disponibilizados apenas aos apresentadores presentes e que assinarem a lista de presença;

?13) Serão disponibilizados recursos audiovisuais para as apresentações (computador e projetor);

14) Quaisquer dúvidas sobre esse edital deve ser enviada para o e-mailomtmaranhao@gmail.com

  • Trabalho e sindicalismo, sob coordenação do Prof. Dr. Roberto Véras (LAEPT/UFPB) e Dr. Mário Henrique Guedes Ladosky (TDEPP/UFCG)
  • Políticas públicas de emprego e renda, sob coordenação do Prof. Dr. Mário Henrique Guedes Ladosky e Prof. Dr. Rodrigo Salles Pereira dos Santos
  • Reestruturação produtiva e formas de gestão do trabalho, sob coordenação do Prof. Dr. José Ricardo Ramalho (PPGS/UFRJ) e Prof. Dr. Raphael Jonathas Lima (PPGS-UFF)
  • Trabalho, gênero e etnicidade, sob coordenação da Profa. Dra. Camila Machado Sampaio (PPGCSOC/UFMA) e Profa. Dra. Marly de Jesus Sá Dias (PPGPP/UFMA)
  • Educação e qualificação profissional, sob coordenação do Prof. Dr. Juarez Carvalho Filho (PPGCSOC/UFMA) e Prof. Dr. Eugênio Pereira (LAEPT/UFPB)
  • Migração e trabalho escravo, sob coordenação da Profa. Dra. Flávia Moura (PPGCOM/UFMA) e Prof. Dr. Marcelo Sampaio Carneiro (PPGSOC/UFMA)
  • Questões do trabalho artístico, técnico e cultural no contexto contemporâneo das indústrias culturais e criativas, sob coordenação do Prof. Dr. Paulo Keller (PPGCSOC/UFMA) e Profa. Dra. Raquel Noronha (PPGDg/UFMA)
  • Trabalho Informal e Precário, sob coordenação da Profa. Dra. Ana Márcia (UFPE/Campus Caruaru) e Prof. Dr. José Aderivaldo da S. Nóbrega (TDEPP/UFCG)
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Comissão Organizadora

OMT Maranhão - Grupo de Pesquisa Trabalho e Sociedade (GPTS/UFMA)

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