Introdução: Nas últimas décadas o Brasil tem passado por um processo de transição nutricional, caracterizado pela diminuição da prevalência de desnutrição e aumento na prevalência de obesidade. Todavia, a ausência de pesquisas com representatividade regional/nacional sobre a saúde infantil na última década limita o conhecimento sobre o atual panorama do estado nutricional de lactentes. Desse modo, destaca-se o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) como instrumento de monitoramento a fim de realizar o diagnóstico nutricional de populações, fornecendo subsídios para nortear gestores e profissionais da atenção básica no desenvolvimento das ações de alimentação e nutrição. Além disso, torna-se ainda mais importante a avaliação do estado nutricional de crianças em condição de vulnerabilidade social, haja vista a associação existente entre as condições de nutrição na idade infantil com determinados agravos à saúde na idade adulta. Objetivos: Descrever o estado nutricional de crianças de 0-2 anos assistidas pelo Programa Bolsa Família (PBF) da região Nordeste acompanhadas pelo SISVAN em 2017. Metodologia: Trata-se de um estudo transversal descritivo realizado a partir de dados secundários do SISVAN Web. Foram analisados os dados dos relatórios públicos de 2017 referentes ao estado nutricional de lactentes (0-2 anos de idade) da região Nordeste do Brasil, registradas no Sistema de Gestão do PBF. A classificação do estado nutricional foi baseada no índice peso-para-altura tendo como referência a curva de crescimento da OMS. Por ser tratar de dados de domínio público, a pesquisa não requer apreciação por Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados: Foram avaliados 384.095 lactentes assistidos pelo PBF em 2017. Em relação ao estado nutricional, foi possível observar que na região Nordeste, 52,8% dos lactentes encontravam-se eutróficos, 20,51% apresentavam risco de sobrepeso e apenas 3,61% tinham magreza acentuada. O Estado do Maranhão foi o que apresentou as maiores prevalências de magreza acentuada e de magreza, com 4,46% e 3,36%, respectivamente. Tais achados foram inclusive superiores às prevalências encontradas na Região Nordeste, 3,61% e 2,99% de lactentes com magreza acentuada e magreza, respectivamente.Em relação à condição de eutrofia, os estados apresentaram dados semelhantes, destacando-se o Piauí (56,38%) e a Bahia (56,13%) com as maiores prevalências de lactentes eutróficos. Quanto ao risco de sobrepeso, o Estado do Ceará foi o que apresentou maior prevalência de lactentes nessa condição (22,54%); resultado superior inclusive a prevalência geral da região, que foi 20,51%. O Estado de Sergipe foi aquele que apresentou as maiores prevalências sobrepeso (13,35%) e obesidade (11,63%). Por outro lado, as menores taxas foram encontradas na Bahia, onde 9,31% e 8,4% encontravam-se em sobrepeso e obesidade, respectivamente. Conclusão: Não foram identificadas discrepâncias nas prevalências de desvios nutricionais entre lactentes assistidos pelo PBF na Região Nordeste. Diferentemente da população adulta, a eutrofia é o estado nutricional mais frequente entre os lactentes avaliados, no entanto, a prevalência daqueles classificados com risco de sobrepeso também foi elevada, representando cerca de 1/5 das crianças. Por fim, identificamos que, embora tenha ocorrido expressiva redução da desnutrição infantil nas últimas décadas, a prevalência observada ainda é cerca de duas vezes superior à esperada (~2,5%).
Comissão Organizadora
Fabio Bruno Neves
Comissão Científica