Cem anos após a realização da Semana de Arte Moderna de 1922, novamente ganha relevo a discussão sobre o significado do movimento modernista e sobre seu legado enquanto campo de reflexão não apenas sobre os rumos da produção artística nacional, mas sobre os desafios e os impasses da experiência de instauração do moderno no Brasil. Assim, do ponto de vista do desafio atual de pensar os limites da trajetória de construção de uma nação autônoma no Brasil e de realizar uma reavaliação crítica de nossa experiência civilizatória, o modernismo brasileiro se apresenta como portador de uma contribuição de inegável valor, justificando o intuito de retomar o movimento a partir de um olhar especialmente sensível às peculiaridades de seu discurso, elaborado em torno de uma complexa articulação entre criação artística e vida social, cosmopolitismo e tradição nacional. Essa visada permite perceber o movimento inserido na cena cultural das primeiras décadas do século XX, incisivamente marcada pelo debate em torno da formação nacional e das condições à emergência da modernidade no país, terreno fértil ao surgimento de elaborações intelectuais com forte poder explicativo bem como de expressões e programas artísticos de grande significação social. Com efeito, não apenas no domínio das artes, esse é um período reconhecidamente profícuo no que concerne à produção de interpretações do Brasil, vindo a público, no interior da tradição de pensamento social brasileiro, algumas de suas obras capitais, como Populações meridionais do Brasil, Casa-grande e Senzala, Raízes do Brasil, com flagrantes divergências assim como significativas convergências propositivas e normativas com o programa modernista, do qual são mesmo adeptos alguns de seus autores. Exatamente a partir de uma perspectiva mais ampla de abordagem do modernismo, esta proposta de Grupo de Trabalho tem como objetivo ser um espaço para o diálogo entre diferentes pesquisas desenvolvidas sobre este movimento e sobre outras construções teóricas e artísticas que partilham as linhas gerais das temáticas e propostas definidoras de seu conteúdo programático. Há uma aposta no potencial heurístico de uma abertura a diferentes materiais e linguagens mobilizados nas pesquisas, bem como atenta-se para a relevância da proposição de novas perspectivas teóricas e metodológicas para sua realização, capazes de contribuir para a emergência de temas e questões porventura não tão explorados ou não estabilizados neste campo de estudos.
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Maro Lara Martins
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