A presente pesquisa pretende analisar o processo de autonomização da Sociologia brasileira enquanto parte constituinte de sua formalização como disciplina no país, assim como a autonomia na Sociologia brasileira como tarefa metodológica para análise da realidade nacional de maneira endógena. É percebido que desde o período independentista ao começo do século XX, o pensamento social brasileiro foi centralizado na formulação de sua concepção em duas tendências: 1) a formação do Estado nacional e 2) a formulação da identidade brasileira, levando em consideração a questão racial (LIEDKE FILHO, 2005). Na tentativa de construir uma imagem nacional, alguns dos mais importantes pensadores do Brasil à primeira metade do século XX – como Nina Rodrigues –, por exemplo, entenderam a sociologia enquanto ciência, como uma descrição da sociologia produzida no exterior, sem que fosse pensada criticamente ao se pensar a sociedade brasileira (GUERREIRO RAMOS, 1995). Com isso, a análise da sociedade brasileira era feita a partir de uma perspectiva ‘não nacional’, e que considerava o ‘problema do negro’ desde uma visão exógena à realidade social do Brasil. Neste sentido, a partir de Guerreiro Ramos é possível pensar que os estrangeirismos contribuíram para o descolamento entre fenômeno social e sociedade referida.
Dado o exposto, o presente trabalho parte do exame dos caminhos metodológicos para a prática da sociologia enquanto uma ciência autônoma, para que seja possível uma análise mais representativa da sociedade nacional. Para tanto, traçamos um caminho destarte uma revisão bibliográfica das contribuições de Émile Durkheim (1895), Georg Simmel (1894) e - principalmente -, Alberto Guerreiro Ramos (1957). Por um lado, Durkheim é considerado o pai da Sociologia moderna pelos esforços para institucionalização da Sociologia enquanto ciência – e, neste sentido, autônoma em relação à psicologia social e à filosofia, por exemplo. Georg Simmel acrescenta à discussão ao colocar a autonomia em dois níveis: 1) estabelecimento de um debate metodológico que também pensava a institucionalização da Sociologia e 2) autonomia como parte do seu processo de análise sociológica, na observação da relação conteúdo e forma. Ambos os autores nos ajudam a pensar a necessidade do casamento entre teoria e realidade concreta, visto que a última não pode ser manipulada para caber na primeira. Por outro lado, Guerreiro Ramos pode ser considerado um dos grandes entusiastas da sociologia latinoamericana, praticada de maneira autônoma. Isto é, à medida que o autor reconhece a importância dos clássicos e das escolas internacionais, Guerreiro Ramos reitera a necessidade do desenvolvimento de um pensamento sociológico que pensasse não apenas a região, mas que também pensasse a sociologia a partir da região (GUERREIRO RAMOS, 1995). Além disso, o autor nos ajuda a pensar como 1) raça é não apenas uma categoria comparativa, mas também relacional e 2) como o projeto de construção de uma identidade nacional buscou na intelectualidade arena para a fabricação de uma identidade e arquétipo racial díspar com a realidade.
Para alcançar tal objetivo, primeiro será analisada a maneira como a autonomia foi trabalhada em Durkheim e como isso contribui para o processo de institucionalização da sociologia enquanto ciência pura. Posteriormente, o argumento será aprofundado a partir do estudo de Georg Simmel em relação ao problema da Sociologia. Pretende-se com isso enriquecer o debate em relação à autonomização da sociologia. Por fim, objetiva-se analisar os preceitos sociológicos de Guerreiro Ramos para além de apenas ferramentas de emancipação para a Sociologia brasileira e as necessidades de uma metodologia que reivindicava autonomia. E, ao fim ao cabo, seja um método sociológico que contribua para o desenvolvimento de uma intelectualidade brasileira, pensada desde o Brasil.
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Maro Lara Martins
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