A questão racial no Brasil: reflexões sobre cor, raça e identidade no contexto nacional

  • Autor
  • Micheli Longo Dorigan
  • Resumo
  •  

    Ao longo da história do Brasil, a questão racial sempre teve grande espaço de discussão, sobretudo no debate sobre temas como a identidade nacional e a miscigenação. Tais temas constituíam o foco de discussão da elite intelectual brasileira, no contexto cientificista do século XIX, que precisava justificar a desigualdade racial e construir uma identidade para o país, apesar do pessimismo sobre a mistura racial vigente no período. Nesse momento, a solução encontrada pelos cientistas da época foi defender a miscigenação como símbolo da identidade nacional, apostando e incentivando o branqueamento da população, através da imigração.

    Contudo, a mestiçagem defendida pelos mesmos, não remeteria a um índice de ausência de discriminação. Este, estaria relacionado com a aquisição de status no grupo dominante, e com a atenuação dos tons de pele e características físicas da raça negra. Nesse contexto, os pardos ou negros de pele clara, acabavam por reproduzir a lógica dominante, de valorização da cultura e da cor branca. E os negros de pele retinta, por sua vez, se sentiam traídos por eles. Tal cenário, dificultava a formação de laços de solidariedade racial, e de movimentos de integração e contestação da discriminação, que somente foram ser articulados a partir de 1930.

    Todavia, é só a partir dos anos 1970, que essa articulação se intensifica, com o surgimento do Movimento Negro Unificado (MNU), que junto a outras organizações, passaram a refletir e questionar a ideologia dominante. Nessa época, as pesquisas evidenciaram que os pardos se aproximavam muito mais dos negros, que dos brancos, e por esse motivo fazia sentido considerá-los como um único grupo. A partir disso, o MNU adotou a noção de pertencimento racial e retomou a ideia de negritude para constituir a identidade dos pardos, como forma de resistência ao mito da democracia racial e a ideologia do branqueamento.

    Para os indivíduos pardos ou negros de pele clara, o ato de assumir a identidade negra, nesse sentido, constituiria um processo de construção política, social e histórica. Contudo, se evidencia na contemporaneidade, o questionamento da identidade racial dos mesmos, em vista, principalmente do colorismo. Este, pode ser definido como uma hierarquização dos tons de pele e traços físicos de pessoas negras, que determinam a intensidade de discriminação que essas pessoas irão sofrer. 

    Tal temática é especialmente sensível no momento em que vivemos hoje, de surgimento e concretização de políticas públicas para a comunidade negra, uma vez que tais políticas levam em conta a questão da autodeclaração de cor/raça como o principal mecanismo, apesar de haverem as comissões de heteroidentificação para efetivação do benefício das cotas. 

    Assim, com o avanço das políticas de cotas, a discussão sobre colorismo e identidade racial se intensifica, o que torna imperativo o estudo e o debate sobre cor, raça e identidade no país.

    Com isso em mente, o objetivo dessa pesquisa é refletir sobre cor, raça e identidade na sociedade brasileira, com enfoque a partir do século XIX até a atualidade. Para isso, será apresentado um resumo da questão racial no país, perpassando temas como mestiçagem, democracia racial, a fim de refletir sobre colorismo e identidade racial, temáticas de extrema importância no contexto atual. Para ancorar o debate sobre tais categorias a pesquisa se fundamenta em autores como Florestan Fernandes (2013), Lilia Schwarcz (2012), Alessandra Devulsky (2021), Gabriela Rodrigues (2021), Neuza Souza (1983), Nilma Lino Gomes (2003), Kabengele Munanga (1999), entre outros.

    DEVULSKY, Alessandra. Colorismo. São Paulo: Jandaíra, 2021.

    FERNANDES, Florestan. O Negro no mundo dos brancos. Editora Global. São Paulo. 1ª edição digital. 330 p.2013.

    GOMES, Nilma Lino. Educação, identidade negra e formação de professores/as: um olhar sobre o corpo negro e o cabelo crespo, Educação e Pesquisa, v. 29, n. 1, p. 167–182, 2003.

    MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Petrópolis: Vozes, 1999. 140p.

    RODRIGUES, Gabriela. M. B. (Contra)mestiçagem negra: pele clara, anti-colorismo e comissões de heteroidentificação racial. Ufba.br, 2021. Disponível em: . Acesso em: 16 de Setembro de 2021.

    SCHWARCZ, Lilia K. M. Nem preto, nem branco muito pelo contrário; cor e raça na sociabilidade brasileira. 1. ed. São Paulo: Claro Enigma. v. 1. 148p. 2012.  

    SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se negro. Rio de Janeiro: Graal, 1983.

     

  • Palavras-chave
  • Colorismo, raça, cor, identidade
  • Área Temática
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