A partir de uma abordagem de pensamento político a partir dos conceito de Ideologia de Michael Freeden e da percepção de Keneth Roover da economia como ideologia, este trabalho pretende explorar a visão de economia enquanto uma ciência objetiva presente na obra do economista liberal Eugênio Gudin (1886-1996). Teremos como recorte os textos escritos pelo autor em sua polêmica sobre planejamento econômico estabelecida com Roberto Simonsen entre 1944 e 1945 e seus artigos no Jornal O globo entre 1958 e 1964 (reunidos posteriormente na coletânea "Análise de problemas brasileiros"). Nestes dois conjuntos de textos, Gudin parte de uma concepção de economia inspirada na economia política clássica de Adam Smith e David Ricardo para propor que a ciência econômica teria o mesmo grau de rigor e cientificidade que as ciências chamadas duras (como a física e a química). A nosso ver, esta percepção articula-se com a concepção de democracia e de política do autor, as quais deveriam estar submetidas a critérios técnicos cuja elites tidas por ele como demagógicas cronicamente desrespeitariam. Não por acaso, o economista apoia o golpe de 1964 contra o governo João Goulart e admite em seus textos que governos autoritários podem ser mais benéficos que os democráticos, desde que submetidos aos critérios do mercado e da ciência econômica. Nos parece, portanto, que a obra de Gudin pode ser chava para entender um certo tipo de cultura política brasileira que se reivindica liberal e cujo discurso permanece no tempo presente.
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Maro Lara Martins
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