Nas últimas décadas as formas de comunicação sofreram mudanças significativas. As relações interpessoais e a política, também. Líderes de direita são protagonistas nas redes sociais e das mudanças possíveis através da era digital. O populista digital trabalha tendo como foco as redes e as possibilidades que elas representam. A maneira com a qual a internet funciona — ainda que de forma pouco transparente — privilegia os conteúdos por eles produzidos. O algoritmo das redes, motor da disseminação dos conteúdos, trabalha tendo como sustentáculo, cálculos de emoções e nas informações “doadas” pelos usuários ao aceitarem os “termos de uso”. Democracias ao redor do mundo sofrem intenso ataque a despeito do uso dos algoritmos das redes. No momento em que esta pesquisa está sendo produzida, o Brasil a exemplo da Europa prepara sua blindagem contra a propagação de notícias falsas, e busca atribuir responsabilidade as big techs, visando a transparência e a gestão do conteúdo monetizado.
Com intuito de compreender o funcionamento das novas formas de interação política proposta a partir das inovações tecnológicas advindas da era digital, este artigo propõem e explora a relação entre o bolsonarismo e as redes sociais, com especial atenção a influência da plataforma de vídeos YouTube. A premissa do artigo propõe que a compreensão da ascensão, influência e da manutenção de Bolsonaro no poder enquanto um político populista autoritário passou, também, pela forma com a qual as redes privilegiam conteúdos de políticos conservadores. Diante disso, a investigação procurou demonstrar a evolução das campanhas no país, dos sites até os algoritmos das redes passando pelas lives. Como estratégia metodológica foi aplicada a mineração de textos por redes semânticas tendo como apoio o software aberto Iramuteq e o posterior tratamento dos grafos com auxílio do programa Gephi. As transmissões escolhidas para a análise dizem respeito as lives compreendidas entre os dois primeiros anos do mandato do ex-presidente Bolsonaro. Dentre as 90 lives, 11 delas contaram com a participação de militares, estas 11 transmissões, divididas em quase seis horas de conteúdo analisado e mais de 10 páginas de material fazem parte do primeiro momento de análise proposto pelo artigo. No segundo momento de análise, complementar a mineração de texto das transcrições do referido recorte, foi analisado os comentários inseridos na plataforma YouTube em 10 destas 11 transmissões, uma delas não teve comentários. Com a análise dos dados obtidos através da transcrição e do tratamento e análise do software, foi possível identificar o padrão de conteúdo veiculado nas lives de quinta-feira. Associando ao primeiro momento metodológico foi possível entender como os textos produzidos durante as transmissões reverberavam na audiência que os acompanhavam através da plataforma de vídeos YouTube.
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Maro Lara Martins
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