O herói e o malandro: uma análise histórica sobre os arquétipos dos protagonistas do Cinema brasileiro e o estadunidense

  • Autor
  • Felipe Silva Motta
  • Co-autores
  • Ana Paula da Costa Munção
  • Resumo
  •  

    O cinema produz diversas representações sociais, entre elas, podemos observar a construção de protagonistas e como estes trazem consigo valores, aprendizados, críticas e problemáticas do nosso Mundo. Este trabalho possui como objetivo compreender os processos que levam o malandro a ser protagonista em tantas obras do cinema brasileiro enquanto no cinema estadunidense os personagens principais são em grande parte uma figura heróica. Considerando isso, essa análise apresenta fatores históricos e sociais que levaram os protagonistas do cinema brasileiro e estadunidense a se diferenciarem tanto, mostrando que as obras trazidas neste trabalho refletem um pensamento social para cada realidade, seja escancarando e desconstruindo uma imagem de protagonista, trazendo o malandro para as telas do cinema nacional ou, no caso dos Estados Unidos, mesmo que de maneira irreal, criando esse imaginário da figura do herói. O personagem presente no cinema brasileiro é representado na figura do malandro, que, neste caso, traz consigo a representação do sistema social brasileiro, marcado por elementos de desigualdade e exploração. Dessa forma, o malandro é tido como uma pessoa astuta, um sobrevivente da dinâmica brasileira, que está preocupado consigo e com alguns poucos ao seu redor, procurando formas justamente de se dar bem ou alcançar pequenos desejos, isso porque o sistema estabelecido não permite que o trabalho seja suficiente para viver; já o protagonista estadunidense é um personagem que luta por algo externo a ele, um problema que não necessariamente diz respeito somente a si, luta por algo maior que o indivíduo, ao mesmo tempo que valoriza essa atitude individual, dessa forma é colocado como herói que sempre defende um ideal, pois o sistema em que ele vive, em tese, funciona, pode até estar falhando naquele momento, mas é uma adversidade, não um fator definido dentro da realidade, por isso os atos heróicos fazem sentido. No filme Shane (1953), surge o herói padrão estadunidense que tem na figura da criança, o peso da responsabilidade de se criar um ideal futuro, décadas depois Rambo (1982) e Rocky (1976) surgem como uma desconstrução desses heróis e que logo depois acabam sendo serializados e sofrem mutações para se encaixarem no padrão ideal e ilusório de que o esforço e a luta valem a pena e que sempre há algo maior para ser defendido. Em A procura da felicidade (2006) vemos outro herói, o trabalhador comum que apesar das adversidades, acredita na terra de oportunidades que possibilitou o seu crescimento dando oportunidades para outros no seu país. Por fim, os super heróis ganham a tela com as adaptações em quadrinhos e em Vingadores: Ultimato (2019) temos os dois protagonistas que lutam e têm seu reconhecimento através da dignidade e do sacrifício. Nos cinemas brasileiros temos Deus e o  Diabo na terra do sol (1964) em que o protagonista do filme é um cangaceiro, já demonstrando como as figuras de protagonismo brasileiro no cinema são no mínimo controversas, não de forma pejorativa, apenas evidenciando as contradições da história do país. O auto da compadecida (2000) com sua comédia coloca dois trabalhadores e também trambiqueiros no protagonismo, mostrando que mesmo no trabalho não há o suficiente para sobreviver. Em Cidade Baixa (2003) os três personagens também trabalham, mas, ao mesmo tempo, procuram sempre outras formas de sobreviver, mesmo que seja enganando e roubando. Por fim, com o filme Bingo (2017) mostra como a figura do apresentador inspirado no palhaço Bozo só consegue alcançar a posição que almejava quando começa a sacanear com alguns ao seu redor. Apesar de todos esses personagens causarem algum tipo de represália, seja do público ou da narrativa, afirmo no sentido moral, a questão do que eles fazem para conseguir estar onde estão nunca é trazida como um problema, a narrativa sempre foca no quão interessante são as manobras que os malandros usam para viver. Com isso, por meio desta pesquisa, foi possível verificar que nos filmes nacionais o personagem malandro é posto como a figura consagrada típica, já nos filmes estadunidenses a figura do herói se aproxima de um discurso individual e meritocrático. Logo, com esta produção foi possível observar e categorizar como cada arquétipo de cada filme  está relacionado ao contexto (social/territorial/cultural e político) em que está situado.

  • Palavras-chave
  • Cinema Brasileiro; Cinema estadunidense; arquétipos; pensamento social brasileiro, malandro.
  • Área Temática
  • GT 2 - Cinema e Quadrinhos como categorias de análise acerca do Pensamento Social Brasileiro
Voltar
  • Grupos de Trabalho (GTs)
  • Pensamento Social Brasileiro
  • Intelectuais, Cultura e Democracia
  • GT 1 - Correspondências intelectuais entre o pensamento social brasileiro e a teoria crítica da sociedade: entre o legado teórico e as contribuições para compreensão de problemas contemporâneos
  • GT 2 - Cinema e Quadrinhos como categorias de análise acerca do Pensamento Social Brasileiro
  • GT 3 - Cultura religiosa e autoritarismo afetivo: perspectivas teóricas e metodológicas para o pensamento social do Brasil contemporâneo
  • GT 4 - Democracia, emoções e futebol
  • GT 5 - Elites, Poder e Instituições Democráticas
  • GT 6 - Estabelecidos e Outsiders do Pensamento Social Brasileiro
  • GT 7 - História, cultura e sociedade: diálogos entre Brasil e América Latina
  • GT 8 - Interseccionalidade e Reconhecimento
  • GT 9 - O modernismo brasileiro e a tradição de pensamento social brasileiro
  • GT 10 - O pensamento (neo)conservador brasileiro
  • GT 11 - O Pensamento Social Brasileiro versus a formação docente
  • GT 12 - Pensamento político brasileiro e atuação intelectual na transição dos séculos XIX e XX
  • GT 13 - Pensamento Social Brasileiro e Historiografia: problemas, aproximações, possibilidades
  • GT 14 - Pensamento Social Brasileiro: intelectuais e a produção sobre relações raciais
  • GT 15 - “Questão social”, luta de classes e dominação burguesa no Brasil
  • GT 16 - Sociedade, movimentos sociais e a Democracia no Brasil
  • GT 17 - Tecnopolíticas e Sociologia Digital
  • GT 18 - Apresentações Coordenadas

Comissão Organizadora

Maro Lara Martins

Comissão Científica