O cinema produz diversas representações sociais, entre elas, podemos observar a construção de protagonistas e como estes trazem consigo valores, aprendizados, críticas e problemáticas do nosso Mundo. Este trabalho possui como objetivo compreender os processos que levam o malandro a ser protagonista em tantas obras do cinema brasileiro enquanto no cinema estadunidense os personagens principais são em grande parte uma figura heróica. Considerando isso, essa análise apresenta fatores históricos e sociais que levaram os protagonistas do cinema brasileiro e estadunidense a se diferenciarem tanto, mostrando que as obras trazidas neste trabalho refletem um pensamento social para cada realidade, seja escancarando e desconstruindo uma imagem de protagonista, trazendo o malandro para as telas do cinema nacional ou, no caso dos Estados Unidos, mesmo que de maneira irreal, criando esse imaginário da figura do herói. O personagem presente no cinema brasileiro é representado na figura do malandro, que, neste caso, traz consigo a representação do sistema social brasileiro, marcado por elementos de desigualdade e exploração. Dessa forma, o malandro é tido como uma pessoa astuta, um sobrevivente da dinâmica brasileira, que está preocupado consigo e com alguns poucos ao seu redor, procurando formas justamente de se dar bem ou alcançar pequenos desejos, isso porque o sistema estabelecido não permite que o trabalho seja suficiente para viver; já o protagonista estadunidense é um personagem que luta por algo externo a ele, um problema que não necessariamente diz respeito somente a si, luta por algo maior que o indivíduo, ao mesmo tempo que valoriza essa atitude individual, dessa forma é colocado como herói que sempre defende um ideal, pois o sistema em que ele vive, em tese, funciona, pode até estar falhando naquele momento, mas é uma adversidade, não um fator definido dentro da realidade, por isso os atos heróicos fazem sentido. No filme Shane (1953), surge o herói padrão estadunidense que tem na figura da criança, o peso da responsabilidade de se criar um ideal futuro, décadas depois Rambo (1982) e Rocky (1976) surgem como uma desconstrução desses heróis e que logo depois acabam sendo serializados e sofrem mutações para se encaixarem no padrão ideal e ilusório de que o esforço e a luta valem a pena e que sempre há algo maior para ser defendido. Em A procura da felicidade (2006) vemos outro herói, o trabalhador comum que apesar das adversidades, acredita na terra de oportunidades que possibilitou o seu crescimento dando oportunidades para outros no seu país. Por fim, os super heróis ganham a tela com as adaptações em quadrinhos e em Vingadores: Ultimato (2019) temos os dois protagonistas que lutam e têm seu reconhecimento através da dignidade e do sacrifício. Nos cinemas brasileiros temos Deus e o Diabo na terra do sol (1964) em que o protagonista do filme é um cangaceiro, já demonstrando como as figuras de protagonismo brasileiro no cinema são no mínimo controversas, não de forma pejorativa, apenas evidenciando as contradições da história do país. O auto da compadecida (2000) com sua comédia coloca dois trabalhadores e também trambiqueiros no protagonismo, mostrando que mesmo no trabalho não há o suficiente para sobreviver. Em Cidade Baixa (2003) os três personagens também trabalham, mas, ao mesmo tempo, procuram sempre outras formas de sobreviver, mesmo que seja enganando e roubando. Por fim, com o filme Bingo (2017) mostra como a figura do apresentador inspirado no palhaço Bozo só consegue alcançar a posição que almejava quando começa a sacanear com alguns ao seu redor. Apesar de todos esses personagens causarem algum tipo de represália, seja do público ou da narrativa, afirmo no sentido moral, a questão do que eles fazem para conseguir estar onde estão nunca é trazida como um problema, a narrativa sempre foca no quão interessante são as manobras que os malandros usam para viver. Com isso, por meio desta pesquisa, foi possível verificar que nos filmes nacionais o personagem malandro é posto como a figura consagrada típica, já nos filmes estadunidenses a figura do herói se aproxima de um discurso individual e meritocrático. Logo, com esta produção foi possível observar e categorizar como cada arquétipo de cada filme está relacionado ao contexto (social/territorial/cultural e político) em que está situado.
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Maro Lara Martins
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