A esquerda revolucionária deve enfrentar um diálogo radical e permanente em torno do papel, desafios e pendências do Estado no capitalismo contemporâneo em crise. A partir de tantas contrarreformas e políticas econômicas ultraneoliberais implantadas pelos Estados nas três últimas décadas, um contínuo processo de expropriação dos direitos sociais dos trabalhadores se consolidou no mundo requerendo uma maior compreensão sobre este fenômeno. Este é percebido – especialmente sob a intensa ascensão do neofascismo –, pela situação de barbárie capitalista verificada pela crescente violência dos Estados. Neste contexto que fundamental refletir de forma mais intensa sobre a lógica ontológica do Estado na sua relação orgânica com o capital caso se deseje uma análise que não incorra em “novos progressismos”. Neste sentido, os trabalhos do cientista político mexicano Gerardo Ávalos e do irlandês radicado em Puebla (México) John Holloway nos brindam com esse tratamento do Estado, examinados a partir da complexa relação entre o pensamento de Marx e a filosofia de Hegel. Esses autores são firmes na ideia de que o capital é uma relação de domínio (poder) entre os seres humanos, sendo um processo complexo que se materializa como atividade política e como poder político Estatal. Na realidade, a essência do processo do capital está em verdadeira sintonia com a lógica do valor (‘forma-valor’). Tomando essa linha de reflexão, fica difícil entender o Estado, como um problema em si, argumento frequentemente evocado por parte do campo da esquerda política que pleiteia a reforma ou refundação do Estado para enfrentar a crise capitalista. A pergunta que se coloca a partir do trabalho teórico desses autores é: será isso possível? A resposta é negativa. Ávalos e Holloway nos remete à compreensão sobre a essência do Estado e, nessa reflexão, nos direciona à “forma-Estado” como uma dedução da forma-valor. Assim, o objetivo deste trabalho é analisar as contribuições teóricas de Ávalos e Holloway sobre o Estado na sua relação com o movimento do capital e sua crise contemporânea, com o intuito de propiciar uma compreensão radical deste Estado pela perspectiva da esquerda revolucionária, afastando-se de todo tipo de aposta meramente institucional. O trabalho está organizado em duas partes. A primeira apresenta as questões da grande crise contemporânea do Capital, especialmente na identificação da relação entre as dimensões econômica, sanitária, ecológica e geopolítica da crise. A segunda parte coloca a centralidade da forma-Estado na crise do capital a partir das contribuições do debate derivacionista trazido por Holloway e, mais recentemente renovado por Ávalos. A partir daí, podemos discutir com maior profundidade e radicalidade das interrogações e/ou propostas que tem inquietado grande parte da esquerda, particularmente latino-americana, se é possível constituir instituições democráticas, fortalecendo o Estado, para enfrentar a crise do capitalismo contemporâneo. Assim, por meio das contribuições de Ávalos e Holloway, compreendemos que o Estado, como o ‘negativo’ do capital – forma-Estado –, como forma política do capital, utiliza sua institucionalidade para fazer a gestão da acumulação global do capital e como o rompimento desse processo deve passar necessariamente pela luta incisiva anticapitalista por parte da esquerda revolucionária.
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Maro Lara Martins
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