A história da Sociologia no Brasil, a despeito das interpretações vigentes, pode ser narrada – e não unilateralmente – com base em seus processos dinâmicos de construção, por seus próprios usos e decisões. Nesses marcos, é possível delimitar as condições e formas do advento da Sociologia no Brasil e sua conformação inicial, compreendendo suas características, fundamentos e paradigma dominante, no caso, um modelo vigente desde os primórdios do século XIX, extraído da tradição sociológica europeia, mormente francesa, tendo acentuado seu cunho mecanicista e expurgados seus caracteres mais historicistas: um tipo de ‘ciência natural’ da sociedade, assimilada aqui com a enxurrada de positivismo, evolucionismo, cientificismo e naturalismo.
Tal paradigma predominou nesse primeiro estágio de criação no Brasil, tendo sido aqui identificado com a própria ciência da sociologiaSociologia, legitimado como interpretação, naturalizado como modelo e ratificado como inexorabilidade histórica. Cabe entender a crítica (e a consequente alternativa proposta) de Tobias Barreto, para o qual a Sociologia, identificada em grande medida com o positivismo, careceria de objeto e métodos precisos e rigorosos, lançando mão de métodos naturalistas, emulados das ciências da natureza, que relegariam a dimensão propriamente humana da liberdade e da finalidade das ações, além de promover uma separação abrupta entre Estado e sociedade, tornando estanques o estudo da política e o entendimento das relações sociais. Embora tácito, Tobias Barreto acena com a possibilidade de construção de uma sociologia distinta do cânone naturalista, uma ciência que fosse particular, empírica, indutiva, compreensiva, histórica e política.
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Maro Lara Martins
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