Este estudo é parte de uma pesquisa em desenvolvimento no programa de pós-graduação em História da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Este recorte, em especifico, possui o objetivo de analisar como o discurso Bolsonarista afeta a performance da cidadania de uma parcela da população brasileira.
Inicialmente, foi realizada uma busca pela definição do discurso bolsonarista, abordando analogicamente os elementos fundamentais do anticomunismo - nacionalismo, liberalismo e catolicismo[1], privelegiando o primeiro por conta do enfoque da tematica desenvolvida neste estudo. Em seguida, destacou-se a maneira pela qual o discurso bolsonarista, disseminado por suas principais lideranças, nega a cidadania de certos segmentos da população brasileira, resultando em posturas antidemocráticas. Além disso, foi evidenciado a relação do pensamento Bolsonarista com um determinado momento da história do pensamento social brasileiro. Essa análise contou com a contribuição de diversos autores, como Motta (2000), Santos (2003, 2007), Almeida (2019), Oliveira (2020), Barbosa, Mello e Moraes (2023), Schwarcz (1993), entre outros.
Bolsonaro demonstrou posicionamentos racistas em inúmeras ocasiões, como na vez que se referiu a homens negros de quilombo como animais, fazendo referência aos seus pesos em “arrobas” e afirmando que não serviam mais nem para reproduzir.[2] Quando não, nega a existência do racismo no país, conforme aponta Ramos, citado por Barbosa, Mello e Moraes[3]. Demonstra-se partidário da ideia de que existe um paraíso racial no Brasil, onde as mazelas do racismo pós-escravidão a muito foram amenizadas e substituídas por uma democracia racial. Os autores também afirmam que, a visão de mundo bolsonarista recupera essas interpretações formuladas de um determinado momento da história intelectual do pensamento social brasileiro, sobretudo na primeira metade do século XX.[4]
Santos afirma categoricamente que, o respeito ao indivíduo é a consagração da cidadania.[5] O discurso bolsonarista, ao ignorar os conflitos raciais evidentes da sociedade brasileira e negar a existência dessa problemática, configura um claro desrespeito a uma parcela majoritária da população brasileira, constituída em grande parte por negros e afrodescendentes. Essa postura representa uma negação de cidadania evidente. Santos também destaca que, nos países subdesenvolvidos: há cidadãos de classes diversas, há os que são mais cidadãos, os que são menos cidadãos e os que nem ainda o são.[6] Este enquadramento analítico é muito relevante para o caso do Brasil, especialmente quando se considera a questão racial, uma vez que a sociedade brasileira é marcada pelo racismo estrutural, o que tem consequências significativas para a compreensão da dinâmica social e política do país, que se manifesta não apenas em atitudes individuais preconceituosas, mas se enraíza nas instituições, nas leis e nas relações sociais, perpetuando desigualdades e impedindo a plena cidadania de parcelas da população.
O bolsonarismo é o exemplo brasileiro, de uma reorganização e fortalecimento político de uma onda neoconservadora que vem acontecendo nos últimos anos no cenário nacional e internacional. Essa corrente política, em muitas ocasiões, apresentou posturas autoritárias e antidemocráticas.[7] É fundamental abandonar o estado “perplexo, atrapalhado e inativo” [8] frente a essas questões. Pretendeu-se, com este trabalho, colaborar tanto para o entendimento do bolsonarismo, quanto para seu enfrentamento dentro do campo político, considerando toda ampla gama de posturas políticas autoritárias e antidemocráticas, com considerável apoio popular que vem ocorrendo no Brasil nos últimos anos. Este estudo visou colaborar com o embasamento cientifico do enfrentamento do bolsonarismo – predominantemente patriarcal e racista – no campo político, pela garantia da preservação da democracia e a manutenção da cidadania brasileira.
[1] MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o "perigo vermelho": o anticomunismo no Brasil (1917-1964). São Paulo: USP, 2000. Tese de Doutorado em História.
[2] Ver: https://www.youtube.com/watch?v=8Y93yYKDZAM. Acesso em: 08 abr. 2023.
[3] BARBOSA, Cairo de Souza; DE MELLO, Gabriel Felipe Oliveira; MORAES, Renan Siqueira. Democracia racial, corrupção e patrimonialismo nas raízes da imaginação nacional bolsonarista. Intellèctus, [S.l.], v. 21, n. 1, p. 173, ago. 2022. ISSN 1676-7640. Disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/intellectus/article/view/65086>. Acesso em: 08 abr. 2023. doi:https://doi.org/10.12957/intellectus.2022.65086.
[4] Ibidem, p. 160.
[5] SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. 7. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, p. 19, 2007.
[6] Ibidem, p. 24.
[7] SOLANO, E. (Org.). O ódio como política: a reinvenção das direitas no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2018, p. 13.
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