Neste artigo, proponho que os quadrinhos nacionais possam ser considerados produtores de interpretação e serem incluídos como informantes do Brasil. Para isso, sustento que é necessário revisitar as demarcações implicadas na distinção entre “intérpretes do Brasil” e “cientistas”. Também pretendo argumentar que a inclusão dessas obras na seara de intérpretes do Brasil, contribui para ampliar a história do pensamento brasileiro e os recentes esforços em olhar para um pensamento periférico. Esta proposta de trabalho faz parte de um estudo mais amplo que tem como objeto de estudo a interseção entre quadrinhos nacionais e a questão racial brasileira. Entretanto, é importante destacar que nosso objetivo principal neste trabalho é buscar uma ampliação da noção de pensamento social brasileiro com a inclusão dos quadrinhos nacionais como fonte de interpretação sobre o Brasil.
Diante dessas reflexões, é importante questionarmos se podemos buscar em campos não convencionais formas científicas de interpretação do Brasil, como a música, o cinema, o teatro, a literatura e, em nosso caso, os quadrinhos. Será que nos quadrinhos brasileiros podemos encontrar interpretações canônicas sobre o Brasil em diferentes períodos históricos, assim como ocorre na literatura, nos folhetins e nos jornais comerciais? Se a resposta for afirmativa, nossa proposta é demonstrar que há, na constelação de quadrinhos nacionais, uma corrente subterrânea de interpretações sobre questões nacionais que também foram abordadas pelos clássicos consagrados do pensamento social. Assim, buscamos alargar a noção de pensamento social brasileiro e ampliar as fontes de interpretação sobre o país.
O pensamento social brasileiro precisa se atualizar e se reinventar para lidar com as novas realidades sociais do país. A tradição do pensamento social brasileiro, que se desenvolveu a partir do pensamento europeu, não é suficiente para dar conta das especificidades da sociedade brasileira, marcada por desigualdades profundas e complexas. Concordamos com Rugai (2011), que propõe, portanto, uma renovação do pensamento social, que leve em conta as particularidades e as dinâmicas próprias da sociedade brasileira, bem como as transformações que estão ocorrendo no mundo contemporâneo.
As duas frentes de trabalho aqui apresentadas são apenas dois dos exemplos de como os quadrinhos podem fazer parte dessa renovação das Ciências Sociais brasileira. Afinal, os quadrinhos nacionais podem ser um bom ponto de partida para fazermos uma economia de mitos, personagens e estereótipos. Os quadrinhos nacionais em seus 150 anos são o reservatório da mitologia social brasileira.
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Maro Lara Martins
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