Produção de conhecimento a partir da experiência afro-diaspórica e sua relação com as noções de agência, memória e tempo

  • Autor
  • Laura Mendes Grosso
  • Co-autores
  • Pamela Barbosa Martins
  • Resumo
  • As mudanças político-educacionais das últimas décadas que têm nos permitido acompanhar transformações possibilitadas pela instauração da Lei 10.639/03 e 11.645/08 e das alterações curriculares que as acompanham, ao estabelecer a obrigatoriedade do Ensino das Histórias e das Culturas Afro-brasileira e Indígenas. Fruto de uma longa caminhada da agência negra no Brasil, as leis são, na perspectiva de Silvério e Trinidad (2012), um novo marco na história da educação do país, representando transformações substantivas que espelham mudanças sociais profundas na forma como nossa sociedade se autoimagina e se representa enquanto comunidade. 

    Neste contexto, outras políticas de ação afirmativa compõem o cenário de marcos legais resultados das lutas travadas por gerações de intelectuais e pela atuação do Movimento Negro, culminando em significativas transformações sociais. A Lei 12.711/12, responsável por dispor sobre o ingresso nas Instituições de Ensino Superior e Médio federais, decretando a reserva de vagas e a Lei 12.990/14, que determinou a reserva de vagas em concursos públicos são exemplos desse processo. As mudanças no acesso ao ensino superior, em específico, tem permitido a abertura de um novo horizonte para pensar e repensar as análises traçadas sobre esses sujeitos e suas histórias até o momento, estimulando novas agendas de pesquisa científica, especialmente nas Ciências Humanas e Sociais (SILVÉRIO, 2022). 

    Com isso em mente, revisitar a história da constituição da sociologia brasileira e suas análises, as quais se proliferam a partir da discussão sobre a temática da racialização (em outros termos), é se deparar com uma Sociologia, que se debruçou em torno de uma criação nacional: o “negro”. Isto é, os descendentes de africanos no Brasil foram tratados sociologicamente em dois momentos: o escravo e o negro. Essa produção discursiva, que busca corporificar representações sociais em indivíduos ou em grupos sociais, através de falas, imagens e ações, são parte de processos históricos e sociais que buscam racializar sujeitos (MEDEIROS, 2018; MEDEIROS E VIEIRA, 2019).

    São três grandes momentos que marcam a produção intelectual sobre as relações raciais no Brasil, a saber: 1) as teorias racialistas provenientes do século XIX, como a Eugenia e o Darwinismo Social; 2) a ideologia da mestiçagem e o mito da democracia racial, entre as décadas de 1930 e 1980 e 3) a reformulação das perspectivas teóricas sobre as relações raciais, avançando sobre o temas como identidade, etnicidade e políticas antirracistas  (MEDEIROS E VIEIRA, 2019). Em relação ao terceiro momento, vale destacar que a expansão da temática das relações raciais implica no aumento da complexidade das discussões. Tal complexidade se dá em uma agenda de pesquisa, agora amadurecida, interdisciplinar e em permanente construção, diante das possibilidades e consolidações proporcionadas pelas políticas de ação afirmativa que marcam o início do século XXI (ARTES; MENA-CHALCO, 2017; BARRETO, et al., 2020).

    Neste processo, uma nova necessidade se apresenta: a da elaboração de novas chaves interpretativas capazes de analisar as novas configurações sociais. Com isso, há uma exigência crescente de categorias mais adequadas para descrever as novas formas de relação entre raça, racismo, cultura, identidade e nação, o que permite também deslocamentos teóricos, epistemológicos e discursivos (BARRETO et al., 2017; FLOR, 2021). 

    Dentre elas, têm-se a noção de “diáspora africana” a qual tem sido recentemente adotada enquanto um novo horizonte analítico para pensar as relações raciais no Brasil contemporâneo. A diáspora africana, enquanto categoria analítica, permite que o sujeito racializado como negro, desloque os regimes racializados de representação que lhes são impostos, apresentando-os uma nova possibilidade de existência, enquanto “sujeito afro-diaspóricos” (FLOR; KAWAKAMI; SILVÉRIO, 2020).

    Dessa forma, para além de levar em conta as teses de intelectuais negras e negros, as quais tensionam e também questionam a forma como os estudos sobre as relações raciais se estabeleceram no contexto brasileiro, temos interesse em discutir sobre a forma que a agência afro-diaspórica, a partir da produção intelectual, tem sido traçada.

     

    À vista disso, compreendemos que nesse novo horizonte de pesquisas as quais buscam revisitar e resgatar as histórias da população negra que sofreram uma tentativa de apagamento e que fazem parte da experiência do sujeito afro-diaspórico, nos parece relevante refletirmos sobre duas questões específicas. A primeira delas busca ponderar quais os sentidos da memória oral no processo de produção de conhecimento racializados e as formas como esta se relaciona com agência negra em diáspora. Por consequência, esse debate nos convida a refletir nossa compreensão e relação com o tempo - passado-presente-futuro, o qual não é necessariamente a partir de uma perspectiva linear.

  • Palavras-chave
  • Produção de conhecimento: Memória; Tempo; Diáspora Africana; agência negra
  • Área Temática
  • GT 14 - Pensamento Social Brasileiro: intelectuais e a produção sobre relações raciais
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  • Pensamento Social Brasileiro
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