Figura célebre no Brasil contemporâneo, FHC a partir de suas produções, levantou importantes questões que ajudam a moldar a estrada percorrida pelo pensamento sociológico nacional. Já presidente, o país vivenciou um aceleramento nas transformações durante a sua gestão, em virtude de novos comportamentos e rearranjos reproduzidos nas nações industrializadas.
Logo, objetiva-se aqui uma breve discussão referente as transformações no campo social, político e econômico ocorridas no cenário nacional, principalmente durante as gestões de Fernando Henrique, entre os anos de 1995 e 2002.
Busca-se dialogá-las com reflexões que auxiliam a compreender os elementos constituintes que assentiram o desenvolvimento e a condução das mudanças que foram viabilizadas durante um período determinante para a intensificação dos processos de globalização e de uma economia estimulada pelo mercado.
Engendrado no neoliberalismo, os dois mandatos de FHC defendiam as privatizações, justificado pela maior competitividade no mercado e pela penetração de empresas internacionais, fomentando a economia e o consumo interno, além de propor uma melhor forma de integração do país na economia global.
Tardiamente, o Brasil se inseriu na conjuntura de novos reordenamentos sistêmicos, a constatar a intensificação nas mudanças na disposição de infraestrutura na época, marcado pelas reformas nos campos da telecomunicação e de deslocamento.
A inevitável difusão e modernização desses setores, vincula-se com a direção neoliberal da gestão FHC, com a privatização de empresas e com as concessões de diversos eixos de deslocamento e escoamento.
Esses atributos se subordinam as dinâmicas de globalização, atrelando-se a consolidação de uma maior fluidez na transmissão de informações e mercadorias, satisfazendo as inéditas demandas do sistema econômico mundial.
Assim, considera-se que a gestão FHC estava atenta às mudanças e exigências que vinham ocorrendo nas variadas esferas globais. Logo, foi implementado uma nova ordem sociopolítica, se apartando das arcaicas estratégias enraizadas no arranjo nacional, simbolizadas pelo clientelismo e o patrimonialismo histórico, com traços de corporativismo, burocracia, fisiologismo e pelo uso do Estado como mecanismo de controle de classes e de interesses particulares.
Tais atributos servem para entender a situação de subdesenvolvimento e de dependência, sendo consideradas problemas estruturais vigentes na sociedade, pertencentes a uma construção sócio-histórica e herança do latifúndio; escravismo; racismo e a hierarquização social e racial, advinda do sistema colonial ibérico.
Com isso, FHC considera que a dependência, o patrimonialismo e o clientelismo são representações de atraso e os maiores obstáculos para o desenvolvimento pleno, e que para a sua superação e modernização, era necessária a abertura do mercado e a institucionalização da competitividade econômica.
Porém, com a globalização, a desproporcionalidade do controle dos capitais social, político e cultural, acentuam os contrastes nas relações das hegemonias, representado pelos oligopólios sob os países periféricos, ampliando os níveis de dependência, as exclusões e as desigualdades socioeconômicas, e consequentemente, os levantes de resistência.
Logo, o governo FHC enfrentou uma série de manifestações e greves populares, acarretadas pela ampla insatisfação às políticas neoliberais. Lideradas pela ampla privatização e pela continência de atuação estatal, o Brasil sofreu com a crise global que se suscitava no mundo na virada do milênio.
A estagnação econômica; exacerbado aumento nas taxas de juros e nos bens de consumo; a queda no poder de compra da população; e o notório crescimento nas taxas de desemprego e de pobreza agravaram o descontentamento popular, inserindo o país em uma grande crise socioeconômica e política.
Com isso, acredita-se que a política institucional das gestões de FHC não considerou suficientemente os problemas estruturais que ainda inviabilizam as chances de desenvolvimento pleno do Brasil. A começar, pela gigantesca e perdurável desigualdade social e a distribuição desigual de renda que assola o país há décadas, infligindo as mazelas que atingem milhões de brasileiros.
Apesar do fato da privatização ter ofertado uma ampliação na concorrência e na competição, houve uma escassez de participação pública, deixando diversas diretrizes nas mãos das multinacionais.
Com isso, pondera-se que o neoliberalismo da gestão FHC agravou a já exorbitante desigualdade social, limitando a atuação do poder do Estado em implementar medidas e projetos que amenizam os impactos negativos entre os mais pobres em tempos de mudanças ocasionadas pela globalização.
Por fim, acredita-se que ao institucionalizar o estímulo e a ampla apreciação da regulação da gestão pública e da economia nacional através do mercado, FHC não se atentou pela relevância do Estado brasileiro na amenização dos problemas socio-historicamente enraizados na sociedade.
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Maro Lara Martins
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