O objetivo deste trabalho é analisar o discurso regionalista presente nos diagnósticos sobre o Vale do Jequitinhonha (MG), entre as décadas de 1960 a 1980, partindo do recorte sobre as elites da área pública (política e técnica) na obra ‘Política e recuperação econômica em Minas Gerais’, do sociólogo e cientista política Otávio Dulci. Apontamos o discurso da ‘jequitinhonhidade’, no seu aspecto ideológico, a partir da analogia com o termo ‘mineiridade’. O autor apresenta três funções ideológicas à ideia da ‘mineiridade’, assim como eventualmente representam outras manifestações de identidades regionais do Brasil. A primeira é a de servir como uma ideologia da classe dominante. A segunda é a de ajudar a legitimar o domínio das elites, na medida em que o restante da sociedade, ou parcela significativa da mesma, compartilha os valores e símbolos regionais. E a terceira é a de fortalecer os interesses do estado de Minas Gerais na arena nacional. Nesse sentido, apresentamos como semelhante à ideia local de ‘ser do Jequitinhonha’, ou no que aqui se denominou ‘jequitinhonhidade’. Partimos da hipótese de que em escala regional há semelhanças com a função ideológica apontada à ‘mineiridade’, sendo uma construção das elites da área pública. As três funções apresentadas por Otávio Dulci se aplicam à ‘jequitinhonhidade’, no caso da terceira, o interesse é voltado para fortalecer os interesses das elites da mesorregião tanto na arena estadual como nacional. A ‘jequitinhonhidade’ é uma das expressões do regionalismo do Vale do Jequitinhonha, que teve sua organização institucional com a criação da Comissão de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha (Codevale) na década de 1960. Nesse sentido, é uma construção ideológica que atende interesses das elites locais e também outsiders, tanto em termos econômicos como políticos. Conclui-se que a unidade regional em torno do discurso do Vale do Jequitinhonha é acionada tanto quando os interesses de convergência das elites estão em jogo, como nas justificativas de empreendimentos empresariais implantados em escala local ou microrregional.
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Maro Lara Martins
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