Em uma história dos estudos folclóricos no Brasil, consolidada nas Ciências Sociais e inscrita na ideia de um Pensamento Social Brasileiro, que remete às críticas proferidas por Florestan Fernandes, é comum encontrarmos o folclore como um saber marginalizado pela ausência de rigor teórico-metodológico. A despeito dessa marginalização científica, uma história intelectual que investigue a trajetória do folclore enquanto campo de estudos não pode prescindir de uma reflexão que analise suas concepções de sociedade e cultura, na medida em que elas estiveram em voga durante meados do século XX e foram bastante profícuas no sentido de fundamentar nacionalismos e, assim, explicar vivências culturais no Brasil e fora dele. Nessa perspectiva, esta comunicação investiga o processo de institucionalização dos estudos folclóricos no Brasil, a partir da fundação do Círculo Pan-americano de Folclore (1940) e da criação da Sociedade Brasileira de Folclore (1941), pelo folclorista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986). Definindo o folclore como uma área do saber formada por referências culturais diversas, Câmara Cascudo delimitou um projeto intelectual a ser executado nos estudos folclóricos brasileiros cuja estratégia seria aproximar folcloristas de diferentes países para compor uma rede intelectual capaz de fazer circular livros e ideias em torno daquilo que ele nomeou de uma “ciência do povo”. Nesse projeto intelectual, posto em prática a partir do início dos anos 1940, ou seja, antes mesmo da criação da Comissão Nacional de Folclore (1947) pelo governo brasileiro, Cascudo propôs uma ideia de cultura que articularia elementos regionais, nacionais e globais, ao que chamou de uma cultura universal. Na esteira de um discurso pan-americanista, ele efetivamente estabeleceu ações e desenvolveu ideias com o intuito de aproximar realidades culturais diversas ao longo do continente, explicando-as à luz de um difusionimo de cariz folclórico. Com efeito, a partir de pesquisas realizadas em acervos localizados no Brasil e no exterior, buscamos refletir sobre esse projeto intelectual cascudiano que, dito às margens, mas em sintonia como um movimento folclórico internacional, nomeadamente no continente americano, tomou o folclore como recurso intelectual para dar sentido à cultura brasileira ao longo do tempo.
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Maro Lara Martins
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