Pretende-se, nesta comunicação, apresentar os resultados de reflexões desenvolvidas acerca das maneiras pelas quais os povos indígenas do Paraná foram descritos e representados por historiadores no decurso do século XX. Nesse sentido, foram analisadas as obras de três gerações de historiadores, as quais, em vários momentos, representaram os índios como “silvícolas” ou “selvagens”, tratando-os, assim, com desprezo e preconceito. No processo de análise, procurou-se compreender o contexto histórico no qual essas obras foram produzidas, bem como o lugar social a partir do qual esses historiadores compuseram suas narrativas (CERTEAU, 2007). A primeira geração, cujos expoentes foram Romário Martins e Francisco da Rocha Pombo, procurou enfatizar a conquista civilizatória sobre os territórios paranaenses e, embora tenha reconhecido a presença dos índios, desconsiderou-os enquanto legítimos donos das terras. Desse modo, ao mencionarem os índios em suas narrativas, esses historiadores valorizaram sobretudo a figura dos índios “colaboracionistas”, ou seja, daqueles que contribuíram com os conquistadores no processo de colonização. A segunda geração, composta por intelectuais vinculados ao poder público do Paraná na década de 1940, produziu narrativas que advogam as ações dos conquistadores de origem europeia. Assim, autores como Arthur Martins Franco (1943) e Francisco Ribeiro de Azevedo Macedo (1995) representaram os indígenas como assimilados pelo processo civilizatório, sustentando, ademais, o caráter pacífico pelo qual teria ocorrido a ocupação territorial. Por fim, a terceira geração é composta por historiadores vinculados à Universidade Federal do Paraná. Entre os anos 1960 e 1980, Cecília Maria Westphalen, Altiva Balhana Pilatti, Brasil Pinheiro Machado e Ruy Wachowski trabalharam na construção de narrativas sobre a História paranaense e, influenciados pelo contexto em que estavam inseridos, enfatizaram o processo de modernização pelo qual passava o estado. Nesse sentido, os indígenas, mais uma vez, figuram entre os coadjuvantes da História, sendo representados como inferiores aos colonizadores de origem europeia, os quais, na leitura destes historiadores, melhor representavam o Paraná. Desse modo, a historiografia paranaense, na maior parte do século XX, desconsiderou a importância dos índios no processo de formação social e cultural da região. Até a década de 1980, ocorreu no Paraná aquilo que John Manuel Monteiro (2001) identificou no restante do país: os historiadores encontraram resistência em abordar a temática indígena (MONTEIRO, 2001, p. 7). No entanto, a partir desse período, a historiografia passou por uma transformação significativa. Impulsionados pela mobilização política dos próprios povos indígenas e pelos debates surgidos no contexto da redemocratização do país, os historiadores empreenderam esforços para compreender o protagonismo desses sujeitos históricos, recorrendo a novas abordagens teórico-metodológicas (MOTA, 2014, p. 14). Deve-se considerar, todavia, que o modo de pensar a história concebido pelas três primeiras gerações descritas acima, bem como as representações que nelas se construíram acerca dos povos indígenas do Paraná ainda podem ser encontradas no pensamento social do estado, figurando nas estantes das bibliotecas públicas e escolares de seus municípios e no modo pelo qual se ensina a História na Educação Básica. Considera-se, portanto, de suma importância o debate e as reflexões relacionadas a essa temática, a fim de que, em contato com pesquisas mais recentes, as futuras gerações possam compreender a importância dos índios na formação da cultura e da sociedade paranaense e brasileira, colaborando, desse modo, com a construção de uma sociedade mais compreensiva e democrática.
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Maro Lara Martins
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