Momento decisivo do processo de modernização brasileira, os anos 30 são emblemáticos da afirmação de um modelo interventor e autoritário, tornado o Estado agente privilegiado de construção da nação moderna. Atravessada por polêmicas candentes do período, como o antagonismo entre liberdade e autoridade e o sentido da democracia, a obra de Oliveira Vianna incorpora a reflexão sobre os fatores da modernidade brasileira. Escrevendo no interior de outra tradição de pensamento, Raymundo Faoro mobiliza as mesmas categorias para elaborar sua visão do processo. Minha proposta é apreender as confluências e os contrastes das interpretações produzidas por esses autores sobre os caminhos que conduzem à modernidade, procurando perceber em que medida a experiência brasileira corresponde a seus ideais normativos.
Oliveira Vianna reconheceu a singularidade da formação histórica brasileira nas origens agrárias do Brasil, no latifúndio como espaço de elaboração de uma solidariedade clânica em torno da autoridade do potentado local. Única fonte de coesão social em meio à dispersão populacional, tibieza da autoridade pública e carência de demais instituições de solidariedade, impondo ao Estado centralizado a condição de protagonista da modernização. Para Faoro, um caminho desditoso, destinado à irrealização. Modernização lacunar, sob o peso da herança ibérica do patrimonialismo estamental, que imprime caráter centralizador e particularista ao Estado brasileiro, inibindo a iniciativa individual no mercado. Contido o pleno desenvolvimento do mercado e do Estado racional, condição ao florescimento do capitalismo e da democracia, a sociedade moderna não se realiza.
A solução autoritária ante o cenário de insolidariedade social e ausência de cultura cívica concebida pela matriz de pensamento que informou a modernização brasileira certamente representou um desvio no caminho da modernidade. Foi, entretanto, seu mérito perceber a incompatibilidade da formação social brasileira com um modelo de modernização anglo-saxão. Tradição, contudo, desvirtuada na implementação de um projeto sem critérios amplos de inclusão social e que tendeu a privilegiar o princípio da ordem sobre o da realização do bem comum.
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Maro Lara Martins
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