O trabalho proposto tem como objetivo investigar a produção intelectual de Mário de Andrade (1893-1945) a respeito de suas viagens à Amazônia e ao Nordeste brasileiro realizadas entre os anos de 1927 e 1929, assim como seus desdobramentos, com enfoque nos diários compilados no livro póstumo O turista aprendiz, publicado pela primeira vez em 1976.
Na viagem à Amazônia, em 1927, apesar de pouca documentação reunida, Mário de Andrade fez registros como o boi-bumbá, que gerou inspiração para Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, bem como anotou melodias inseridas em seu Ensaio sobre a música brasileira, ambos publicados em 1928. Nas notas realizadas no decorrer do percurso, que geraram o diário intitulado “O Turista Aprendiz: viagens pelo Amazonas até o Peru, pelo Madeira até a Bolívia e por Marajó até dizer chega!”, nunca publicadas por Mário de Andrade, é perceptível o foco voltado para a intuição artística. Desse modo, o autor de Macunaíma se interessou pelo aproveitamento literário das referências populares, sendo seu objetivo direcionado, principalmente, para produção de uma arte nacional.
Durante a viagem ao Nordeste, ocorrida entre 1928 e 1929, que o próprio Mário de Andrade denominou “viagem etnográfica”, o escritor se preocupou em planejar um roteiro que favorecesse seus estudos sobre folclore musical, bem como, desenvolver uma metodologia, embora não muito rigorosa, para a coleta e registro do material popular como Cheganças, Pastoris, Bumba-meu-Boi, Congos, Cabocolinhos e Maracatus, que se realizavam entre o Natal e o Carnaval, além dos cocos. O trabalho de etnógrafo e musicólogo é somado ao de cronista do Diário Nacional de São Paulo, sendo as crônicas publicadas na coluna “O Turista Aprendiz”. Ao retornar da incursão, o escritor visou a realização de uma obra volumosa, voltada para o estudo do folclore musical brasileiro, intitulada Na pancada do ganzá. Nota-se, portanto, a associação do folclore por Mário de Andrade também como um objeto de pesquisa e não apenas instrumento artístico dentro de seus esforços de “abrasileirar o Brasil”. A viagem também originou inspiração para a escrita da série de textos Vida do Cantador, publicada na coluna “Mundo Musical”, do jornal Folha da Manhã, de São Paulo, que possui o coqueiro Chico Antônio como protagonista.
À luz do apresentado, pretende-se investigar a relação de Mário de Andrade com as fontes populares, ora literária, ora mais próxima da orientação científica, apesar do escritor não se considerar folclorista, tendo em vista o deslocamento de sentido dos estudos sobre as culturas populares na produção marioandradina. As produções de Mário de Andrade em torno das viagens integram um amplo projeto intelectual, cultural, político e literário de estudo, pesquisa e reflexão a respeito das tradições populares.
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Maro Lara Martins
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