O presente trabalho tem por objetivo compreender a mobilização de agentes na década de 1940, conectados em uma rede de sociabilidades, que formaram a comissão de criação da primeira faculdade estadual do Paraná, a Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Ponta Grossa (FEFCL-PG). Fez-se uso do método prosopográfico para identificar as interseções entre os agentes, para entender as características coletivas do grupo, e de como esse grupo se comunicava com a sociedade mais ampla. Utilizamos como fontes principais as narrativas que entrelaçam tempo, sociedade e espaço sobre a FEFCL-PG, e os agentes que pertenceram a sua comissão de criação, presentes nos jornais Diário dos Campos e O Dia (PR). Argumenta-se que a cidade de Ponta Grossa, depois de ter passado por um período de significativo desenvolvimento, na década de 1940, acabou perdendo notoriedade no contexto paranaense para novas cidades do norte e sudoeste, e paralelamente, era uma cidade com mais de cem anos que tinha um acúmulo de capital cultural. A partir disso, um grupo de agentes que tinham posição de destaque na sociedade ponta-grossense, incluindo alguns que participavam da política local, articularam-se, e criaram instituições, que se referiam a áreas estratégicas na sociedade – como cultura e educação. Em 1948 foi criado o Centro Cultural Euclides da Cunha (CCEC), que reunia intelectuais que realizavam reuniões, conferências, cursos; e entre outras coisas, discutiam sobre a disseminação do conhecimento científico, e a possibilidade da criação de uma faculdade em Ponta Grossa, que serviria aos interesses dos próprios integrantes do grupo, dos que ainda não tinham um curso de nível superior, e também, pela possibilidade do ingresso no Ensino Superior das suas próximas gerações, sem que fosse necessário o deslocamento para outras cidades do país. Ter a formação em um curso de nível superior dentro da sociedade ponta-grossense, nesse período, não poderia contribuir apenas no capital cultural, mas também no capital simbólico, social e econômico desses agentes. Ainda, uma instituição de nível superior nesse contexto, estava atrelada a ideia de modernização e progresso das cidades brasileiras, e contribuiria na formação de professores para Ponta Grossa e região. Nesse sentido, em 1948 foi criada uma comissão para projetar a fundação da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Ponta Grossa, tendo como integrantes os professores Mario Lima Santos, José Pinto Rosas, Lourival Santos Lima, Valdevino Lopes e Faris Salomão Michaele (também diretor do CCEC). Pouco tempo depois, no dia 8 de novembro de 1949, o Decreto n. 8837 do governador do estado pelo Partido Social Democrático (PSD), Moysés Lupion, autorizou a criação da FEFCL-PG. Podem ser observadas ligações entre a criação da FEFCL-PG e o PSD, pois entre os cinco membros da comissão, quatro eram filiados ao PSD, e desses, três tinham cargos dentro do partido. Nesse sentido, considera-se que a criação da FEFCL-PG, representou o resultado da ação de agentes, e das posições que ocupavam, em redes de sociabilidades significativas no contexto paranaense, e esteve relacionada a intenções educacionais e político-partidárias.
Comissão Organizadora
Maro Lara Martins
Comissão Científica