Os termos “direita”, “extrema direita” e “conservadorismo” fazem parte da nossa gramática política cotidiana, são recorrentes nas conversas, na mídia e no Parlamento. A direita não está envergonhada, há vários cidadãos e alguns partidos políticos que se declaram como “direitistas” e “conservadores”, algo que não era comum nos primeiros anos após a redemocratização. Essas semânticas são cada vez mais utilizadas por grupos que visam defender determinadas pautas morais, religiosas e tradições. Todavia, o modus operandi radical e extremista que predomina em grande parte da atual direita brasileira não define o espectro político como fenômeno histórico. Quando olhamos para o passado do país, é possível inferir que há várias acepções e visões dentro do campo da direita, o qual está longe de ser homogêneo.
Diante disso, objetiva-se, no presente artigo, compreender de forma histórica e política a genealogia das direitas brasileiras. Com o avanço da direita no cenário político brasileiro, precisamos entender a tradição “direitista” do país, que teve sua origem no Império e foi remodelada durante o curso da história nacional. O artigo pretende evidenciar as semelhanças e as diferenças entre as diversas expressões políticas consideradas de “direita” no Brasil, a exemplo de conservadorismo, liberalismo, integralismo etc. A partir de evidências históricas, é possível saber qual a origem da direita atual e quais os fundamentos que constitui esse espectro político no Brasil.
A direita brasileira tem uma longa marcha datada desde a Independência do Brasil (1822), evento marcado por uma transição pactuada entre as elites. Durante aproximadamente dois séculos, diferentes correntes de pensamento situadas no espectro político da direita emergiram. Entre ascensões e declínios, as direitas se repaginaram no decorrer do tempo, porém conservaram certos vícios inerentes à própria visão política.
André Kaysel, cientista político e professor da Unicamp, ao publicar o texto “Regressando ao Regresso”, que faz parte da obra “Direita, Volver!”, busca encontrar a genealogia das direitas no Brasil. O autor realiza um estudo histórico detalhado no intuito de compreender as origens, os fundamentos e as diferenças existentes na direita brasileira enquanto espectro político. Historicamente, a direita não pode ser considerada um bloco monolítico, uma vez que diversas micro-ideologias auxiliaram na formação da macro-ideologia, a exemplo das ideias conservadoras, liberais, positivistas, integralistas e militaristas, quando pensamos no caso brasileiro.
Ao propor um artigo que começa no “tempo saquarema” e termina no governo Bolsonaro, pretende-se averiguar de modo detalhado as origens e os significados do campo da direita brasileira. Desse modo, acredita-se que uma pesquisa qualitativa que se vale do método qualitativo é capaz de contemplar os objetivos estipulados. O objetivo geral da pesquisa é compreender a genealogia das direitas brasileiras — dos saquaremas a Bolsonaro. Como objetivos específicos, pode-se citar os seguintes: analisar os fundamentos do Partido Conservador no Segundo Reinado; entender o positivismo dos militares e o liberalismo dos latifundiários na Primeira República; compreender o integralismo; apresentar o pensamento de Vargas; analisar a Ditadura Militar; e examinar o funcionamento da direita após a redemocratização, principalmente o bolsonarismo.
Para facilitar o entendimento acerca das direitas brasileiras, o presente artigo é dividido em quatro seções, perpassando por significativos momentos da história brasileira, como o Segundo Reinado, a Primeira República e a transição para a Era Vargas, a Ditadura Militar e o cenário político brasileiro após a Constituição de 1988. Os exemplos históricos auxiliam na compreensão da temática evidenciada, bem como no alcance dos objetivos almejados.
Para que os objetivos sejam cumpridos e o artigo exerça, de fato, sua contribuição para o “GT 10 – O pensamento (neo) conservador brasileiro”, é necessário se valer de uma bibliografia capaz de contemplar as questões evidenciadas. Sendo assim, autores renomandos no âmbito do pensamento político brasileiro, a exemplo de José Murilo de Carvalho, João Camilo de Oliveira Torres, Maria do Carmo Campelo de Souza e Boris Fausto são referências importantes para o desenvolvimento do trabalho.
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