Este trabalho busca apresentar reflexões desencadeadas ao longo do documentário “Autodeclarado” (2022), no qual são retratadas discussões sobre classificações étnico-racial no âmbito das comissões de heteroidentificação em todas as regiões do país. Ao longo da última década, muitas universidades públicas brasileiras têm implementado procedimentos de verificação para o acesso à política afirmativa, como também, alguns concursos públicos (no domínio da lei nº 12.990/2014). Nesse sentido, pesquisas nos evidenciam que os parâmetros utilizados para reconhecer as/os sujeitas/os de direito dessas ações afirmativas são alicerçadas na concepção de "preconceito de marca" de Oracy Nogueira. Este autor tem como uma de suas premissas a ideia de que o racismo no Brasil é gradativo, ou seja, quanto mais escura for a cor da pele, mais chances a pessoa terá de sofrer discriminações. Consideramos que a referida produção audiovisual surge como uma demonstração das complexidades e ambiguidades do nosso sistema de classificação étnico-racial, principalmente em torno da categoria “parda". Argumentamos, também, que as ações afirmativas são fruto de esforços históricos do Movimento Negro, e por esta razão, é imprescindível que as pessoas beneficiadas pertençam, de fato, aos grupos subalternizados na sociedade, a saber: pretas/os, parda/os e indígenas. No entanto, não podemos perder de vista que tais políticas são resultantes de estudos e estratégias políticas desenvolvidas na segunda metade do XX que nos mostram que pardas/os e pretas/os estão mais próximos entre si do que das/os brancas/os. À vista disso, procuramos compreender como as pessoas pardas têm sido compreendidas nesses processos de heteroidentificação, bem como, as disputas em torno de classificação — tendo em mente as reeleituras que têm sido feitas acerca das contribuições de Nogueira.
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Maro Lara Martins
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