O presente trabalho problematiza a percepção sobre o povo brasileiro e o fazer fílmico em dois momentos distintos da trajetória do cineasta brasileiro Eduardo de Oliveira Coutinho (1933-2014). Em um primeiro momento, analiso sua atuação no Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, ao lado da geração do Cinema Novo, tendo a arte engajada e o Brasil como problema na centralidade da disputa artístico intelectual do nacional-popular, até o golpe empresarial-militar de 1964. Em um segundo momento, apresento como as transformações artísticos-culturais no período ditatorial e na abertura política dos anos 1980 levaram o diretor a mudanças de posição crítica sobre o fazer artístico cinematográfico e como filmar as pessoas comuns, já presente em seu mais conhecido filme, o documentário Cabra marcado para morrer (1964-1984). Com esse intuito, deter-me-ei em seus anos como documentarista popular no Centro de Criação de Imagem Popular (CECIP), entre os anos 1980-1990, período em que se aproxima das questões fundamentais da redemocratização e da Nova Constituição de 1988, filmando, a contrapelo, junto aos moradores das favelas, da luta operária, dos direitos basilares da cidadania e daqueles e daquelas invisibilizados em múltiplas periferias do Brasil, colocando em questão, de forma sutil, os limites do alcance do liberalismo democrático, ao mostrar a realidade de pessoas comuns à margem. Para tanto, parto das entrevistas do diretor nos dois recortes de tempo e de seus filmes no CECIP, Santa Marta: duas semanas no morro (1987); Volta Redonda: memorial da greve (1989); Boca de Lixo (1992) e Mulheres no front (1996). Destarte, dialogarei com as contribuições suscitadas por pesquisadores da cultura como Marcos Napolitano (2001, 2017), Marcelo Ridenti (2014), do cinema como Bernardet (2007, 2009) e Ramos (2008, 2018); do campo político, a partir do filósofo Enrique Dussel (2007).
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