O nosso passado colonial deita raízes profundas na formação social brasileira. Ele faz parte da configuração do nosso capitalismo dependente e alimenta o racismo como uma categoria estrturante de nossa sociedade. Nesse sentido, a questão do racismo não se trata de uma mera herança da escravidão, mas de uma situação atual que estrutura e dinamiza as relações sociais capitalistas no Brasil. Essa é uma conclusão teórico-política que podemos elaborar a partir do conjunto da obra do sociólogo Florestan Fernandes sobre as relações raciais no Brasil e suas profundas conexões com o capitalismo dependente.
Isto posto, o objetivo do presente trabalho é analisar a articulação entre raça e classe no pensamento de Florestan Fernandes. A intenção é examinar a forma como o sociólogo paulistano relaciona a questão racial aos dilemas históricos do subdesenvolvimento, do capitalismo dependente e da revolução burguesa. Ou seja, pretendemos demonstrar como Fernandes relaciona raça e classe, não apenas como uma chave interpretativa da realidade latino-americana, mas também como um imperativo fundamental para de pensar os processos emancipatórios.
É importante deixar claro que toda a dimensão sócio-histórica do “dilema racial brasileiro” não se resume num único texto ou em uma punica obra de Florestan Fernandes. Todavia, nos limites desse trabalho, baseamos algumas de nossas conclusões nos seguintes textos: O dilema racial brasileiro do último capítulo de A Integração do Negro; A persistência do passado e o já citado Aspectos políticos do dilema racial brasileiro publicados em O negro no mundo dos brancos (1972); a obra Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina (1973); o livro Circuito Fechado (1976); Poder e contrapoder na América Latina (1981) e, por fim, os alguns ensaios reunidos em O Significado do Protesto Negro (1989). Acreditamos que através desses textos podemos ter um panorama geral das construções teóricas e políticas mais densas de Florestan sobre a relação entre questão racial e capitalismo no Brasil.
Todavia, é necessário enfatizar também que que nem sempre os vínculos conceituais entre racismo e as caracterizações sociológicas sobre o subdesenvolvimento e o capitalismo dependente estão devidamente estabelecidos em todos os trabalhos de Florestan que versam sobre as classes sociais. A articulação entre essa categorias se itensifica na medida em que a posição política e sociológica de Florestan assume uma postura mais radicalizada e aprofunda sua relação com a teoria marxista.
Se na A Integração do Negro (1965) já é possível localizar a ideia de que o racismo poderia se tornar uma realidade estrutural e permanente da ordem social competitiva estabelecida no Brasil, em O Negro no Mundo dos Brancos (1972) Florestan já visualiza os nexos intrínsecos entre racismo, capitalismo dependente e subdesenvolvimento. Entretanto, será em O Significado Protesto Negro, publicado originalmente em 1989, que Florestan apresentará suas conclusões mais radicalizadas sobre a questão racial no âmbito político. Na coletânea de artigos Fernandes apresenta numa perspectiva dialética e marxista, a imbricação entre dominação racial e exploração capitalista.
Portanto, objetivamos demonstrar como Fernandes passa a conceber a interação dialética entre racismo/colonialismo e capitalismo dependente. Consideramos que, ao compreender – através de uma perspectiva marxista – o racismo como uma característica intrínseca e indissociável da realização do capitalismo na periferia, a noção de “dilema racial” assume novas dimensões e sentido qualitativamente novos em obra.
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Maro Lara Martins
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