Este trabalho se propõe a analisar, a partir das cartas trocadas entre Luís da Câmara Cascudo e Josué de Castro, a formação epistemológica de um campo de estudo acerca da alimentação, durante a primeira metade do século XX. Nesta época, esses dois intelectuais procuravam discutir um sentimento de causas sociais, políticas e culturais que permitiam ao indivíduo construir uma visão crítica em torno do meio social brasileiro, naquilo que podemos chamar de um Pensamento Social Brasileiro. Assim sendo, percebemos em Câmara Cascudo a elaboração de um pensamento pautado nas características culturais, com foco na representatividade cultural alimentícia da sociedade brasileira, isto é, em torno das inquietações alimentares nacionais: a comida. Enquanto isso, Josué de Castro fundamentava seu pensamento nas questões sociopolíticas, especialmente no que a sociedade deixava de comer, o que se configurou no espectro da fome. Nesse sentido, teoricamente, trabalhamos os seguintes conceitos: o intelectual enquanto um sujeito político, a partir de Jean-François Sirinelli (2003); e a ideia de um pensamento social brasileiro na história intelectual, a partir das ideias de Thiago Tolentino (2019). Por sua vez, construímos nossa metodologia baseada na perspectiva de Michel Foucault (2004), problematizado e analisando as principais fontes documentais (correspondências trocadas entre os dois intelectuais e seus livros acerca do tema da alimentação e da fome). Através do discurso de saber e poder, que estão presentes no diálogo entre esses intelectuais, procuramos entender a formação epistemológica e os principais aspectos sociais por eles abordados. Assim, da fome à alimentação, é oportuno investigarmos como se deu a construção desta epistemologia da alimentação no interior do Pensamento Social Brasileiro.
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Maro Lara Martins
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