Gilberto Freyre trata-se de um dos grandes intérpretes do Brasil. Fez parte da chamada geração de 1930, junto com figuras como Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Junior. Considerado por muitos um autor polêmico, conservador além de ser muito atacado nas ciências sociais por vezes excluído das interpretações do Brasil. Muitos consideram sua obra superada em alguns pontos e inovadora noutros. Justamente, a intenção aqui é apresentar brevemente este intérprete dando destaque ao livro Casa Grande & Senzala. Livro no qual esboça a formação da sociedade brasileira através da mistura das raças. Para isso, descreve com detalhes como o processo de miscigenação ocorre no Brasil desde o momento do “encontro” do europeu com as gentes que aqui habitavam. Demonstra ainda que a cultura do colonizador foi o que prevaleceu, e como foram incorporados aos poucos alguns elementos do indígena e do negro e que persistem até hoje no Brasil e nos brasileiros. Num cenário com o pano de fundo da monocultura latifundiária da cana-de-açúcar, sustentada a partir do trabalho escravo, do patriarcado e pela mistura das raças que se dava no interior das casas grandes, nas senzalas, nos engenhos de açúcar e em meio aos canaviais de Pernambuco. É diante desta realidade que Freyre esboça a tese de como o Brasil atual (da sua época) é ainda produto de mais de 500 anos de miscigenação. Para dar conta do objetivo proposto buscou-se em um primeiro momento evidenciar vida e obra deste autor; posteriormente, destaca-se sua formação, e as principais influências teóricas; apresenta-se ainda sua produção intelectual, posteriormente, evidencia-se a sua obra de maior destaque: o clássico do pensamento social brasileiro: Casa-Grande & Senzala e finalmente uma sessão dedicada as considerações finais. É oportuno lembrar aqui ainda até o momento em que Freyre publicou sua obra a tradição intelectual brasileira da época considerava a mestiçagem um ponto negativo no curso da história brasileira e que por conta disto o Brasil jamais seria nação propriamente desenvolvida, consequência da miscigenação. É com Freyre que se descortina o oposto, para ele estávamos destinados a sim ser uma nação promissora justamente por essa mistura das raças, dando destaque ao papel fundamental que representou o índio e o negro na formação do Brasil. É oportuno mencionar aqui ainda, que se trata de um desafio desmedido abordar esta figura polêmica e por muitas vezes renegada da academia em um espaço tão reduzido, afinal, “ cada vez que julgamos pegá-lo na rede, ele escapa por entre os buracos feito geleia” como descreve Darcy. Há quem diga que "Freyre é, talvez, o mais complexo, difícil e contraditório entre nossos grandes pensadores” (SOUZA, 2000, p.69). Além de ser muito atacado nas ciências sociais e por vezes excluído das interpretações do Brasil por suas posições políticas conservadoras e por ter certa simpatia pela classe dominante da sua época. Durante anos ficou condenado como reacionário e afastado das universidades brasileiras, justamente pela sua obra e pela sua ação política, já que se colocava ao lado dos "vencedores". Para a academia, e, sobretudo para a esquerda brasileira da época ler seus livros era uma atitude condenável e um pecado para quem se articulava com as “diretrizes da esquerda brasileira” esta que combatia o autoritarismo dos militares (REZENDE, 2000). Todavia, hoje parece existir um olhar mais cordial e mais aberto sobre as obras de Freyre e raros são os textos que tentam desmerecer sua obra a ponto de achá-la incoerente ou sem sentido. Além disso, suas contribuições a respeito da formação do Brasil, mesmo aos olhos dos críticos são valiosas e não podem ser excluídas de quem se propõe interpretar o Brasil desde e para os brasileiros. Enquanto isso, seguimos na luta pelo Brasil que otimista Freyre desejou e poetizou em 1926: “outro Brasil que vem aí/mais tropical/mais fraternal/mais brasileiro/eu ouço as vozes/ eu vejo as cores/ eu sinto os passos/de outro Brasil que vem aí”!
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Maro Lara Martins
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