O campo do Pensamento Social brasileiro é fundamentalmente um “vasto campo” (SCHWARCZ ; BOTELHO, 2011) interdisciplinar – e, por isso, também, área de fronteira, apresentando possibilidades variadas de confluências e de diálogos, bem como tensões. Partindo dessa perspectiva, a presente proposta de comunicação tem como interesse indagar-se sobre um aspecto particular dessa zona de contato: a das relações entre Historiografia e Pensamento Social brasileiro.
Seguindo inspiração no artigo O Pensamento social no Brasil e os historiadores: notas sobre uma intedisciplinaridade desigual, de João Marcelo Maia, publicado no periódico História da HIstoriografia, em 2021, se quer também observar "a área de Pensamento Social no Brasil (PSB) à luz de suas aproximações e distanciamentos em relação ao campo da HIstória", ou seja, busca-se promover diálogos possíveis entre ambos os campos, focando as posições tomadas e os encaminhamentos propostos.
Para Maia há uma espécie de “interdisciplinaridade desigual”, pois mesmo “a despeito da importância do trabalho de historiadores para a conformação dessa área, o PSB não se tornou um subcampo autônomo na disciplina”, diferente do que teria se processado em relação às Ciências Sociais” – onde teria se enraizado mais fortemente (MAIA, 2021). A reflexão do autor parte das indagações de Thiago Lenine Tito Tolentino que, em Pensamento Social Brasileiro em perspectiva: história, teoria e crítica – artigo também publicado em História da Historiografia, em 2019 – elaborou crítica ao campo do PSB, apontando que este estaria “sob controle”, fundamentando uma abordagem instauradora de “uma história e uma tradição das ciências sociais no Brasil”, operando, com isso, uma espécie de “controle do imaginário” nos estudos sobre intelectuais e cultura no Brasil, legitimando procedimentos e estabelecendo uma espécie de cânone interpretativo. Tolentino observa que haveria certa restrição ‘sociológica’ em relação às produções que não se restringiriam às formas discursivas acadêmicas – tais como ”o ensaio, o artigo, a crítica, a monografia, a tese acadêmica” típicas dos chamados “interpretes” da realidade social – excluindo, com isso, produções distanciadas dessas formas, “como a literatura, a canção, as artes plásticas etc” (TOLENTINO, 2020). Para superar tal impasse, Tolentino sugere a utilização do conceito de cultura intelectual, caracterizada prioritariamente a partir das dinâmicas de ”produção, circulação e recepção de materiais simbólicos diversos no interior da sociedade brasileira” e não por algum aspecto canônico, realista, científico, epistemológico ou formalista”, contemplando, assim, produções e produtores variados, percebendo o “intelectual também como uma função em um “lugar” construído historicamente, (...) marcado por relações de poder, interesses, estratégias e controle, e acionado por artistas, escritores, políticos, leitores” em (ou a partir de) meios de produção de bens simbólicos diversos, congregados em variegadas “instituições, associações, partidos, coletivos e grupos” e, desse modo, não orientados em torno de um ethos definidor ou nem mesmo pertencendo ”à determinada linhagem de pensamento ou característica formal de sua produção.” Ainda que se possa discordar do caráter restriitivo em trono do cânone nas pesquisas em PSB, as formulações de Tolentino, retomadas por Maia, permitem que vislumbremos a intensidade do debate em torno do campo e de sua disciplinarização
Assim, motivados por tal debate, a intenção desta comunicação é servir como introdução aos trabalhos do GT 13 – Pensamento Social Brasileiro e Historiografia: problemas, aproximações, possibilidades, problematizando o tema articulador proposto.
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Maro Lara Martins
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