Jorge Mattar Villela (2009), em pesquisa realizada no Sertão de Pernambuco, produziu reflexões sobre as relações tecidas entre a família e a política: seriam as questões biológicas e afetivas que unem as pessoas em torno de um grupo que pode ser chamado de família? Em parte sim, mas não unicamente. Villela chama a atenção para o modo como famílias podem ser reorganizadas devido a circunstâncias políticas, vínculos são construídos ou diluídos a cada contexto. Neste sentido, não só as famílias fazem a política, como a política também faz e desfaz as famílias. Tendo isto em vista, o presente trabalho busca problematizar esses rearranjos familiares e políticos partindo do caso dos Abrantes/Gonçalves, da cidade do Lastro, na Paraíba. Esta análise tem como fonte primária os livros Sangue, Terra e Pó (1983), de José de Abrantes Gadelha; e Memórias de um Persistente (2011), de Erasmo Quintino de Abrantes. Os dois autores são membros da mesma família, porém buscam construir memórias diferentes sobre ela. Usando o método da análise do discurso (Foucault, 2004) e mobilizando conceitos como memória (Catroga, 2015) e esquecimento (Huyssen, 2014), procuramos compreender como a família Abrantes/Gonçalves tem se constituído, especialmente através de narrativas organizadas e publicadas em livros, não apenas como um grupo de pessoas unidas por aspectos biológicos e afetivos, mas também como agrupamento político.
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Maro Lara Martins
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