O objetivo desta exposição é destacar algumas das formulações de Octavio Ianni para a interpretação da realidade latina americana, com especial atenção a problemática da questão nacional que, no entender do autor, é basilar para a compreensão de lutas sociais e disputas dos países da América Latina. Para Ianni, a nação pode ser vista como uma configuração histórica, como uma formação social em movimento que pode vir a se desenvolver, se transformar ou mesmo se romper. Nesse sentido, na América Latina a problemática nacional revela-se inconclusa quando vista a partir de determinados temas do pensamento social latino americano. A exemplo disso, temos a desconformidade entre a sociedade e o Estado enquanto um desafio permanente nos países da América Latina e Caribe, devido a permanência do circulo vicioso constitutivo de miséria, violência, autoritarismo e tirania, cuja circularidade, historicamente se apresenta em uma realidade em que o Estado é forte, a democracia episódica, a ditadura recorrente. No contexto pós-colonial, junto com as desigualdades sociais, econômicas, culturais e étnicas/raciais nacionais, formaram-se também as regionais, sendo que um dos componentes contínuos dessas disparidades refere-se à luta pela terra e a disciplina pelo trabalho. Contudo, em Ianni, a configuração nacional por si só, não explica uma nação, do mesmo modo que a configuração regional, enquanto unidade, resulta em infida homogeneidade, na medida em que encobre as particularidades da formação dos Estados nacionais e das tramas que tanto integram, quanto fragmentam a integração socioeconômica das nações latino-americanas. Não raro, a metáfora do labirinto é utilizada para menção a América Latina, dando sentido à noção de emaranhado, de algo preso em rede, feito de tramas. Tomada à ideia de América Latina presente nas formulações de Ianni, opera-se com a concepção de que se trata de um lócus caracterizado por sua heterogeneidade de elementos sociais, políticos, militares, culturais, linguísticos, entre outros, de algo que não se explica somente por sua totalidade constituída por países, mas também por especificidades históricas e particularidades de cada formação nacional. A questão da incorporação dependente ao espaço econômico, cultural e político das nações hegemônicas não escapa as reflexões de Ianni sobre a questão nacional, dada a posição periférica e a condição de dependência dos países latinos americanos. Portanto, para o autor, a questão nacional na América Latina também se revela sob o prisma da Quinta fronteira, fenômeno cuja expressão pode ser entendida como um fato e ainda enquanto metáfora, considerando que não é na geografia que se localiza a fronteira, ela está na sociedade, no Estado, na história. Não sendo uma concepção que se restringe à primazia do econômico, de acordo com o pensador brasileiro, a noção de Quinta- fronteira permite reflexões de maior complexidade, pois, “na América Latina, as relações externas constituem uma determinação essencial; entram decisivamente na definição do perfil da Nação. Uns falam em interdependência, parceria, associação, etc.; outros se referem à subordinação, perda da soberania, administração externa. Podem mudar as interpretações, mas todos reconhecem a importância das relações externas na conformação externa e interna.” (IANNI, 1988, p. 18). A acuidade da Quinta fronteira conforme posto por Ianni, implica considerar que ela não precisa estar no território, por vezes se manifesta na influência para a consolidação de pactos institucionais, outras vezes se revela por meio de apoio ou derrubada de governos; tanto articula a associação interdependente entre setores dominantes estrangeiros e locais, quanto cria desigualdades sociais e aprofunda contradições internas. Do ponto de vista analítico, a Quinta fronteira ampara o desenvolvimento interpretativo dos fenômenos latino-americanos relativos à questão nacional, torna-se chave para a apreciação dos contornos e movimentos de cada sociedade nacional no que se refere aos nexos entre a dimensão interna x externa do Estado. No bojo deste pensamento, está posto que a questão nacional constitui o dilema da América Latina e a Quinta fronteira, representa uma determinação essencial na definição dos contornos de cada sociedade nacional e na composição do espaço político e da organização do poder latino-americano. Assim sendo, a ideia de América Latina em Ianni, compendia diversos temas e distintas abordagens analíticas, numa demonstração do adensamento de seu pensamento na compreensão daquilo que se denomina por dimensão latino-americana e dos seus sentidos explicativos.
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Maro Lara Martins
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