Orientando-se pelos estudos da sociologia dos intelectuais – compreendendo-a como uma área de grande convergência de disciplinas, métodos e técnicas de pesquisa do fenômeno dos intelectuais –, nosso trabalho propõe uma investigação sobre a vida intelectual brasileira nos anos da ditadura militar com ênfase nas disputas intelectuais que marcaram o debate sobre o “populismo” no Brasil. A partir desta categoria explicativa, constituiu-se, em nosso cenário intelectual, uma extensa avaliação das experiências políticas e culturais das esquerdas derrotadas pelo golpe-civil militar de 1964; mais do que um enfrentamento teórico, sua formulação e difusão revelou-se instrumento importante de uma disputa intelectual conduzida, em sua maioria, por intelectuais acadêmicos ligados direta ou indiretamente à Universidade de São Paulo – Octavio Ianni, Francisco Weffort, Fernando Henrique Cardoso, Paul Singer, Maria Sylvia de Carvalho Franco, Caio Navarro de Toledo, Carlos Guilherme Mota, entre outros. O objetivo de nosso estudo é examinar o impacto que este debate exerceu sobre a vida intelectual brasileira, em especial sobre o legado e a trajetória da intelectualidade alvo desta revisão crítica – os intelectuais ligados, também direta ou indiretamente, ao, na época, Partido Comunista do Brasil (PCB), ao extinto Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) ou ao “Estado Populista” representado pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e seus sucessivos mandatos presidenciais (Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart). Compreendendo que este debate teve lugar dentro de um contexto de grandes transformações estruturais da sociedade brasileira, procuramos investigar seu impacto cotejando-o com outros fatores significativos para pensarmos as mudanças verificadas em nossa vida intelectual – da constituição da indústria cultural à ampliação das universidades e dos programas de pós-graduação. Nos limites sociológicos e acadêmicos desta proposta, procederemos à realização de um estudo de caso sobre a trajetória de um dos intelectuais envolvidos nesta disputa: o historiador e crítico literário Nelson Werneck Sodré – militante histórico do PCB e ex-integrante do ISEB. Desta forma, pretendemos constituir um espaço de investigação que permita debater as transformações externas e internas do cenário intelectual da ditadura militar e que também identifique o expediente sinuoso desta intelectualidade que emergiu nos anos do florescimento político e cultural das décadas de 50 e 60 e, que nos anos subsequentes, vivenciando os desdobramentos destas mudanças e disputas, experimentou um gradual deslocamento do centro da vida intelectual para suas margens.
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Maro Lara Martins
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