O presente trabalho busca analisar aproximações entre Gilberto Freyre e José Lins do Rego, especialmente na década de 1940, período que marca o fechamento do ciclo romanesco da cana-de-açúcar, com a publicação do derradeiro volume Fogo Morto em 1943 pelo romancista paraibano. Neste mesmo período, em 1947, Freyre publicou no Brasil a tradução do seu livro lançado poucos anos antes nos EUA, intitulado Interpretação do Brasil. Obra que resultou de palestras realizadas pelo sociólogo recifense nos Estados Unidos em 1944, Interpretação do Brasil tem como capítulo final justamente uma discussão sobre a “literatura moderna do Brasil”. E é exatamente nesse texto que Freyre fará um grande elogio à obra de José Lins do Rego, destacando um dos personagens centrais de Fogo Morto, o quixotesco Vitorino Carneiro da Cunha. A atenção aqui, justamente na década de 1940, se faz visto o investimento que Freyre parece ter feito nesse período para divulgar o regionalismo como vertente legítima da cultura brasileira, e até como alternativa ao modernismo. Nesse sentido, a aproximação entre o sociólogo e o romancista do ciclo da cana-de-açúcar, como a crítica já apontava então, parece indicar como Lins do Rego pode ser uma chave de leitura interessante para entender como Freyre buscava então construir uma memória de liderança e protagonismo, supostamente desde a década de 1920, do regionalismo no Brasil, corrente que após o sucesso do romance de 30 podia ser reivindicado como também legítima vertente do modernismo brasileiro. Não a toa, Freyre insistiu demasiadamente que o Manifesto Regionalista, publicado originalmente em 1952, seria na verdade o texto que ele teria apresentado no Congresso Regionalista de 1926, embora não haja qualquer prova que corrobore essa afirmação. Assim, através de pesquisas que também venho fazendo a partir da Revista de Cultura Nordeste, lançada em Recife em 1945, pretendo analisar até que ponto Gilberte Freyre aproveitou essa conjuntura de 1940 para se colocar no debate sobre modernismo e regionalismo, reconstruindo sua atuação e respectiva memória desde a década de 1920. Neste sentido, talvez seja interessante inverter a pergunta que parece mais óbvia, e se questionar até que ponto o sociólogo recifense não buscou se beneficiar do prestígio alcançado pela literatura romanesca da década de 1930, que alcançou muito sucesso, especialmente a partir de romancistas que tematizaram regiões nordestinas. Como José Lins do Rego foi, ao que tudo indica, a figura mais próxima de Gilberto Freyre entre esses romancistas regionalistas, essa aproximação entre ambos na década de 1940 interessa para entender alguns debates sobre regionalismo e modernismo nessa conjuntura canonicamente entendida como Terceira Geração Modernista de 1945.
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Maro Lara Martins
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