Para o historiador Roger Chartier, tão importante quanto os conflitos políticos ou econômicos que ocorrem no interior das sociedades, são as disputas entre os diferentes grupos sociais pela imposição de sua visão de mundo, pela forma como cada classe "representa" o real. Assim, estudar produtos oriundos daquilo que os pesquisadores vinculados à Escola de Frankfurt definiram como "Indústria Cultural", ou autores mais recentes como "Cultura da Mídia'", torna-se um imperativo para a compreensão da realidade social brasileira.
Nesse sentido, o filme "Que horas ela volta?", lançado em 2015 e dirigido pela cineasta brasileira Anna Muylaert, configura-se como uma importante fonte para a reflexão das estruturas de dominação de classe araigadas na sociedade brasileira como consequencia do mais de 300 anos de escravidão que caracterizaram nossa história, assim como as mudanças ocorridas a partir de 2002, e que introduzem um novo horizonte de expectativa nas relações de classe do Brasil.
A obra acompanha a história de Val, uma empregada doméstica que trabalha e vive na casa de uma família de classe média alta enquanto também é responsável por cuidar do filho do casal. No entanto, a harmonia das relações sociais, até então naturalizadas pelas personagens, é querstionada diante da chegada repentina da disruptiva Jessica, filha da empregada, que passa a constestar as estruturas que organizam aquele espaço. Com isso, a diretora cria as condições nercessárias para que se possa compreender de que forma essa herança escravocrata se perpetua nas relações entre patrões e empregados, no Brasil contemporâneo, e de que maneira as mudanças ocorridas no país, com os governos do PT e um maior acesso à educação, configuram uma possibilidade de ruptura dessas estruturas vigentes.
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Maro Lara Martins
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