Este trabalho visa retomar questões lançadas no Simpósio Temático “Pensamento Social Brasileiro: intelectuais, cultura e política”, ocorrido na 32º Simpósio Nacional da Anpuh sobre os processos pelos quais se conformou, e se conforma, o cânone de determinado campo, como o Pensamento Social Brasileiro. Especificamente, a discussão se debruçou sobre as dinâmicas de circulação de Gilberto Freyre, um autor altamente consagrado, de modo atentar para suas tentativas de controle sobre a leitura/recepção da própria obra por diferentes públicos, seus esforços de rotinização das próprias ideias na grande imprensa, assim como para o aspecto especificamente consagrador da tradução e da circulação internacional. Assim, vale retomar a discussão sobre o cânone para perguntar o que ainda se pode falar sobre um autor de tamanha fortuna crítica, como Gilberto Freyre?
Nesse sentido, este trabalho se propõe a analisar os paratextos do livro The Gilberto Freyre Reader, publicado pela editora norte-americana Alfred A. Knopf em 1974. Trata-se da tradução de Seleta Para Jovens, publicada no Brasil pela editora José Olympio em 1971. Mais que a adaptação dos excertos de textos freyreanos para o inglês, cabe interrogar as instâncias prefaciais, como sobrecapa e orelhas, em que o autor era reapresentado, em novo contexto, a um novo público, isto é, não mais as circunstâncias e leitores de Brazil, an interpretatiton (1945) e The Master and the Slaves (1946). Em segundo lugar, mas centralmente, trata-se de retomar o prefácio escrito pelo dono da editora, Alfred Knopf, em que a história do envolvimento da editora e seus agentes com o mercado editorial brasileiro e com Freyre é narrada como forma de legitimar a posição de Alfred como broker entre duas culturas.
Essa escolha apoia-se na definição do “paratexto editorial” por Gérard Genette como um espaço“ privilegiado de uma pragmática e de uma estratégia, de uma ação sob o público, a serviço, bem ou mal compreendido e acabado, de uma melhor acolhida do texto e de uma leitura mais pertinente (...) aos olhos do autor e de seus aliados”. O pesquisador deve, portanto, questionar a intencionalidade e o efeito de cada decisão que conforma os discursos e práticas paratextuais,indagando quem os institui, onde se encontram, como operam, a quem visam interpelar, quando foram implementados, entre outras questões possíveis. A partir do cotejamento desses elementos, torna-se possível inferir a “força ilocutória” do paratexto editorial, talvez de forma indireta, seu efeito consagrador
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Maro Lara Martins
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