Para uma linha do tempo das questões socioambientais no Brasil é indispensável ter como ponto de partida seu passado colonial. Há pouco mais de cinco séculos, uma dinâmica de múltiplas violências e violações tem sido empreendida contra diferentes formas de vida e contextos territoriais. Trata-se de uma lógica caracterizada pelo saque e extermínio, induzida por uma voraz mercantilização e degradação sem precedentes. Se por um lado, a sanha colonial se consolidou a partir do trabalho escravizado, da exploração de madeira e da monocultura – com destaque inicialmente na produção de cana-de-açúcar e, posteriormente, café – por outro, em âmbito mineral a centralidade era a extração aurífera, muito embora houvesse exploração de pedras preciosas em algumas regiões. Fatalmente, a transição de uma exploração rudimentar, limitada pelas condições técnicas e espaciais, para uma força agressiva de espoliação ampliada a partir da inserção de máquinas como resultado da Revolução Industrial foi, a passos largos, inserindo o país em uma nova fase de exploração. Com o avanço da industrialização e das pesquisas no campo mineral, o setor passou a ocupar maior volume na economia local, mas ainda sob a lógica voltada ao consumo externo. As transformações produtivas possibilitaram a identificação e a exploração de outros metais, os quais passaram a figurar como produto de interesse e especulação internacional. As mudanças em grande medida induziram o alargamento do setor e, na contemporaneidade, atualizou uma dinâmica de acumulação transnacional que embora não seja inédita, traz consigo características específicas da globalização. Como o pensamento social brasileiro, coaduna e antecipa uma preocupação ecológica que vem ocupando lugar de destaque nas últimas décadas? De que forma, as mudanças no mundo do trabalho vêm dando pistas para pensar a realidade contemporânea a partir de uma crise sistêmica? Partindo dessas indagações, o presente ensaio é resultante de um estudo bibliográfico, tendo como principais objetivos: 1. Apresentar algumas formulações de pensadores e pensadoras que, mesmo de forma despretensiosa, inseriram discussões convergentes com a assim chamada questão socioambiental em suas investigações; 2. Refletir sobre suas contribuições para a compreensão da realidade atual; 3. Discutir a problemática da mineração enquanto desdobramento de processos de acumulação primitiva, com atualizações através das dinâmicas de reestruturação produtiva. A recorrência de uma produção voltada para exportação tem sido preocupação e tema de amplos debates no pensamento social brasileiro, ora colocando em tela o problema da monocultura agropastoril, ora centrada na expropriação mineral. Em ambos os casos, essa é uma característica balizadora do processo produtivo que vinha conduzindo a formação das sociedades locais desde a invasão colonial até a contemporaneidade (PRADO JR, 2011). O limitado investimento em infraestrutura tem mantido o país como mero exportador de produtos primários desde a invasão colonial. No campo da mineração, essa é uma das características perenes ao longo da história. Desse modo, pensar a noção de dependência (MARINI, 1973; 2013) é fundamental para se compreender a deficitária – e intencional – cadeia produtiva estabelecida. De igual importância, o modelo instituído impõe a necessidade de questionar o padrão de desenvolvimento que acompanha sua estruturação. Nesse sentido, a dicotomia desenvolvimento-subdesenvolvimento (FURTADO, 2009; 2011) é um importante farol para refletir sobre a lógica de desigualdades imposta pelo modo de produção capitalista no Brasil. Assim, o pensamento social brasileiro ao longo do século XX tem apresentado um prenúncio das problemáticas socioambientais – no geral – além de apresentar questões específicas no âmbito da mineração aliado à relação macroeconômica com outras nações. Assim, o ensaio traz para o centro da reflexão uma releitura sobre os processos históricos que conduziram as transformações no mundo do trabalho e nas condições socioambientais. A partir do referencial mencionado, expõem-se algumas pistas sobre eventuais antecipações ao longo de suas produções, como prenúncios de pautas emergentes na contemporaneidade. Em particular, apresentam-se questões relativas à lógica de exploração ampliada, problemas socioambientais e de natureza laboral, com especial atenção ao setor da mineração. Este, por sua vez, em grande medida tem produzido conflitos nos mais variados contextos territoriais.
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Maro Lara Martins
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