Ao longo da história do Brasil, a questão racial sempre teve grande espaço de discussão, sobretudo no debate sobre temas como a identidade nacional e a miscigenação. Com o avanço na criação e implementação das ações afirmativas para a população negra, novos tópicos de discussões sobre a temática racial surgiram, inclusive atrelados aos temas anteriores, já bastante estudados pelas Ciências Sociais. Entre eles, encontra-se o colorismo, conceito que pode ser definido, como uma hierarquização dos tons de pele e traços físicos de pessoas negras, que determinam a intensidade da discriminação.
Nessa conjuntura, destaca-se a existência de uma disputa para definir, entre a autodeclaração e o fenótipo, quem são os negros que, ao se autodeclararem como pretos ou pardos, constituem os sujeitos que devem ser necessariamente amparados por estas políticas. Assim, é no período de surgimento e concretização das ações afirmativas que o relacionamento entre pretos e pardos, já complexo no passado pela lógica da hierarquia racial, ganha novos contornos, uma vez que tais políticas levam em conta a questão da autodeclaração de cor/raça como o principal mecanismo, apesar de haver na maioria dos casos, as comissões de heteroidentificação para sua efetivação.
Além do mais, em vista do modo como se dera a organização racial nos séculos anteriores, ao abordar a discussão sobre colorismo hoje, os autores – tanto da academia quanto fora dela - comumente fazem uma releitura desta organização orientada por uma escala hierárquica de cores, argumentando o acesso dos sujeitos negros mais claros aos espaços de poder na sociedade brasileira. A discussão sobre colorismo, nesse sentido, poderia estar dando base ao pensamento de que os pardos ou negros de pele clara, possuiriam benefícios ou privilégios pelo fato de vivermos uma sociedade colorista.
Ademais, além da alegação de um suposto privilégio, uma vez que a tonalidade da pele é relevante e diretamente relacionada a incidência do racismo evidencia-se também a suspeita sobre a legitimidade da identidade racial desses indivíduos, sobretudo no contexto das políticas de ação afirmativa. Tal problema que se intensifica na medida em que a pigmentocracia suposta pelo colorismo se transforma em uma escala para medir quão negro o sujeito é. Nessa linha, os negros de clara, são vistos como menos negros, ou até mesmo, possuem sua identidade racial anulada por pessoas tanto da comunidade negra, quanto de fora dela.
Assim, os pardos e/ou negros de pele clara, constituem o problema e o dilema das políticas de ação afirmativa, bem como do movimento negro no brasil. Por esse motivo, torna-se imperativo analisar as relações entre cor, raça e identidade no país e refletir sobre colorismo, seu significado e implicações na especificidade do contexto nacional.
Com isso em mente, o objetivo da pesquisa é fazer uma análise sobre cor, raça e identidade na sociedade brasileira, a fim de refletir sobre colorismo e identidade racial no contexto das políticas de ação afirmativa. Para isso, a partir de pesquisa bibliográfica e documental, será apresentado um resumo histórico da questão racial no país, perpassando temas como mestiçagem, democracia racial, a fim de refletir sobre colorismo e identidade. Nessa linha, a pesquisa possui um caráter tanto explicativo, quanto exploratório, na análise dos fatores que contribuem para a existência do colorismo na sociedade brasileira, revisitando temas já explorados, como cor e raça, assim como pouco estudados, como o colorismo em si.
As conclusões parciais da pesquisa mostram que a falta de discussão sobre colorismo no país, ou a discussão feita de maneira equivocada, pode gerar impactos negativos tanto a nível individual, quanto coletivo. A nível individual, para os sujeitos pardos ou negros de pele clara, pode contribuir para ocasionar diversos conflitos de consciência e prejudicar o desenvolvimento de uma identidade saudável, em vista da frequente desvalorização e deslegitimação da mesma. Além do fato, desses indivíduos terem suas posições raciais constantemente deslocadas entre o ser branco e o ser negro, dificultando a saída do “limbo” racial em que vivem. No nível coletivo, a negação da negritude dos indivíduos negros de pele clara, enfraquece a luta contra o racismo estrutural e o mito da democracia racial, e contribui para a perpetuação da branquitude entre eles. Nessa linha, entende-se que é preciso estudar sobre o tema no brasil, e levar essa discussão para diferentes ambientes, a fim de gerar conhecimento, debate e conscientização sobre.
O 4º Seminário de Pensamento Social Brasileiro: intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, será realizado entre os dias 2 e 6 de junho de 2025, no formato híbrido. A programação presencial será realizada nas dependências do CCHN-Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, enquanto a programação virtual será transmitida pelas páginas oficiais do evento no YouTube e pela DoityPlay. Nesta edição contaremos com Conferência de Abertura, Grupos de Trabalho (modalidade virtual) e Conferência de Encerramento. Esperamos retomar o diálogo proposto nas edições anteriores do evento (1º SPSB, 2º SPSB e 3ºSPSB) que resultaram na publicação de livros oriundos das áreas temáticas presentes anteriormente (Coleção Pensamento Social Brasileiro-Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4), publicarmos novos livros oriundos desta edição do evento e que novas conexões possam ser criadas. Com esses sentimentos de alegria e reencontro, lhes desejamos boas-vindas!