ENTRE CARGOS E IDEIAS: Atuação do Centrão de 2019 a 2024

  • Autor
  • Igor Sabino Rodrigues Solci
  • Resumo
  • Resumo Entre Cargos e Ideias: a atuação do Centrão de 2019 a 2024.

     

    Autor: Igor Sabino Rodrigues Solci.

    Mestrando no PPGPol da UFSCar.

     

    Diversos estudos foram feitos não apenas sobre o caso brasileiro, mas qualquer sistema de governo que necessite de coalizões partidárias para ser governado (Abranches, 1988; Limongi, 2006; Power, 2010; Palermo, 2016). Nesse sentido, os estudos apontam para a importância de observar não apenas o processo de montagem de coalizões, mas da gestão das mesmas. Para ambas as tarefas, o executivo dispõe de ferramentas, como o Controle Orçamentário e a Distribuição de Ministérios (Couto, Soares e Livramento, 2021; Bertholini e Pereira, 2017). Contudo, essa prática, a troca de recursos por votos, é mal vista pela mídia e pela sociedade, além de ser alvo de esquema de corrupção, como o Mensalão deixa evidente.

    Se, pelo lado do Executivo, o sistema oferece ferramentas que propiciam a montagem de coalizões. Do lado Legislativo um grupo de partidos se sobressai por aceitar a troca de votos pelos recursos (Testa, Mesquita e Bolognesi, 2024; Bezerra e Vieira, 2022). Optando por uma estratégia de estilo office-seeking (Wolinetz, 2002 apud Ribeiro, 2014), esses partidos conseguem se manter no poder enviando recursos para suas bases, o que gera votos na eleição seguinte. Mesmo que originado na mídia e carente de uma definição científica rigorosa, o epíteto Centrão congrega um conjunto de partidos tanto no imaginário popular quanto nos experts da Ciência Política (Testa, Mesquita e Bolognesi, 2024; Bezerra e Vieira, 2022). Nesse sentido, as mudanças ocasionadas tanto institucionalmente quanto pela conjuntura leva-nos a questionar se os acordos até aqui estabelecidos entre Executivo e Legislativo perdurarão.

    Isso porque, após a Emenda Constitucional 86 (Vasconcelos, 2024), o Legislativo, e os partidos do Centrão por consequência, obtiveram a garantia dos recursos que antes eram discricionários do Executivo, utilizados como moeda de troca na formação de coalizões. Além disso, escândalos dentro do governo Bolsonaro o levaram a se aliar ao grupo (Couto, 2021), ocasionando até na entrada do líder carismático em um dos principais partidos que compõem este imaginário do Centrão, o PL.

    Com a vitória de Lula na eleição seguinte, fica em suspenso qual seria a melhor estratégia a ser adotada por esses partidos para manter seus votos. De um lado, já têm garantido os recursos das emendas parlamentares e podem contar com o alinhamento a Bolsonaro para obter votos junto a seu eleitorado. De outro, aderir a Lula, comportamento esperado do Centrão antes de 2014, significaria obter cargos nos Ministérios, que não vêm sem custos à imagem do partido e ocasionaria em um desgaste da imagem de aliados fiéis a Bolsonaro.

    Além disso, é importante distinguir os partidos que compõem o grupo do Centrão, sendo que cada um pode optar por uma estratégia diferente, seja ela office-seeking ou policy-seeking. Enquanto o PL pode continuar a se radicalizar enquanto partido que abriga Bolsonaro, mudando a estratégia típica, PSD pode ingressar tanto no governo de Lula quanto no de Tarcísio, governador de São Paulo pelo REPUBLICANOS, e aliado de Bolsonaro, mantendo a busca por cargos. Isso demonstra que, apesar de serem tratados como iguais no imaginário político, esses partidos conservam características que os diferenciam quanto a meios e fins.

    Dessa forma, nossa pesquisa vai no sentido de entender como esses partidos se posicionaram num continuum entre dois tipos ideais: aqueles que aderiram ao governo Lula e evitaram de se posicionar ideologicamente, e aqueles que não adentraram no governo, mas passaram a se posicionar ideologicamente. Para isso, empreendemos uma análise de conteúdo utilizando o IRAMUTEQ para mensurar o posicionamento ideológico na construção dos tipos ideais narrados acima, além de procurar mudanças na atuação em 3 períodos distintos: os dois primeiros anos do governo Bolsonaro, os dois anos seguintes e os dois primeiros anos do governo Lula.















     

    Referências.

     

    ABRANCHES. Presidencialismo de coalizão: o dilema institucional brasileiro. Dados. Rio de Janeiro. vol. 31, n. 1, 1988. p. 5-34. Disponível em: https://www.scielo.br/j/dados/a/ZJ7Zq9wM5JQt7N5j5J7Zq9w/?lang=pt Acesso em 17/08/2024.

     

    BAIÃO, Alexandre Lima; COUTO, Cláudio Gonçalves; OLIVEIRA, Vanessa Elias de. Quem ganha o quê, quando e como? Emendas orçamentárias em Saúde no Brasil. Revista de Sociologia e Política, v. 27, n. 71, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rsocp/a/ZTGNpZyqYZKysNcGLqS3trj/ Acesso em: 30/12/2024.

     

    BERTHOLINI, Frederico; PEREIRA, Carlos. Pagando o preço de governar: custos de gerência de coalizão no presidencialismo brasileiro. Revista de Administração Pública, v. 51, n. 4, p. 528-550, jul. 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rap/a/9przPh6zP4sTwMds84qcj3B/abstract/?lang=pt Acesso em: 30/12/2024.

     

    BEZERRA, Gabriella M. L.; VIEIRA, Márcia P.; Interpretações e poderes em disputa: o ressurgimento do Centrão na política brasileira. Caderno Eletrônico de Ciências Sociais. Vitória. v. 10, n. 1, 2023. DOI: https://doi.org/10.47456/cadecs.v10i1.39670 Disponível em: https://periodicos.ufes.br/cadecs/article/view/39670 Acesso em: 17 ago 2024.

     

    COUTO, Cláudio Gonçalves. Do Governo-Movimento ao Pacto Militar-Fisiológico. In: AVRITZER, Leonardo; KERCHE Fábio; MARONA, Marjorie (orgs). Governo Bolsonaro: Retrocesso democrático e degradação política. Belo Horizonte: Autêntica, 2021. p. 35-49. 

     

    COUTO, Lucas; SOARES, Andéliton; LIVRAMENTO, Bernardo. Presidencialismo de coalizão: conceito e aplicação. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 34 p. 1-39, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcpol/a/fmViS6nMXFZHFYBJ9ipwH9g/ Acesso em: 30/12/2024.

     

    LIMONGI, Fernando. Presidencialismo, coalizão partidária e processo decisório. Novos Estudos, n. 76, p. 17-41, nov. 2006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/nec/a/BFxz33vLwN9rRnGy6HQMDbz/ Acesso em: 30/12/2024.

     

    LIMONGI, Fernando; FIGUEIREDO, Argelina C.. A crise atual e o debate institucional. Novos estudos CEBRAP, v. 36, n. 3, p. 79-97, set. 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/nec/a/KBxnHhZWWCPJ5zglwKTTzSK/abstract/?lang=pt Acesso em: 06 fev 2025.

     

    PALERMO, Vicente. Brazilian Political Institutions: an Inconclusive Debate. Brazilian Political Science Review. [S.l], p. 1-29. 2016. DOI: https://doi.org/10.1590/1981-38212016000200003 Acesso em: 05 fev 2025.

     

    POWER, Timothy J.. Optimism, pessimism, and coalitional presidentialism: debating the institutional design of brazilian democracy. Bulletin of Latin American Research. Oxford, vol. 29, n 1, p. 18-33, 2010. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1470-9856.2009.00304.x Acesso em: 04 fev 2025.

     

    RIBEIRO, Ricardo Luiz Mendes. Decadência longe do poder: refundação e crise do PFL. Revista de Sociologia e Política. 2014, v. 22, n. 49, pp. 5-37. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-44782014000100002 Disponível em: https://www.scielo.br/j/rsocp/a/WP5YWdwKDm5ZnywsJrRXmPc/abstract/?lang=pt Acesso em: 3 jul 2024.

     

    TESTA, Graziella, MESQUITA, Lara e BOLOGNESI, Bruno. DO FISIOLOGISMO AO CENTRO DO PODER: as reformas eleitorais e o centrão 2.0. Caderno CRH. 2024, v. 37. DOI: https://doi.org/10.9771/ccrh.v37i0.55537 Disponível em: https://www.scielo.br/j/ccrh/a/KYZ8sp5GL475Rnww8bMVGhi/ Acesso em: 17 ago 2024.

     

    VASCONCELOS, Mariana. Das Emendas Individuais ao Orçamento Secreto: a gestão da coalizão no governo Bolsonaro (2019-2022). Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado Ciências Sociais). Universidade Estadual Paulista (UNESP), 2024. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/items/03e0d2c0-cf41-44aa-8ce9-3ca0d279d68c Acesso em: 30/12/2024.

     

    WELLER, Leonardo; LIMONGI, Fernando. Democracia negociada: política partidária no Brasil da Nova República. 1. ed. Rio de Janeiro: FGV Editora. 2024.

     

  • Palavras-chave
  • Presidencialismo de Coalizão; Centrão; Bolsonaro; Partidos de Direita; Análise de Conteúdo.
  • Área Temática
  • GT1 - Brasil: encruzilhadas na defesa da democracia
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O 4º Seminário de Pensamento Social Brasileiro: intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, será realizado entre os dias 2 e 6 de junho de 2025, no formato híbrido. A programação presencial será realizada nas dependências do CCHN-Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, enquanto a programação virtual será transmitida pelas páginas oficiais do evento no YouTube e pela DoityPlay. Nesta edição contaremos com Conferência de Abertura, Grupos de Trabalho (modalidade virtual) e Conferência de Encerramento. Esperamos retomar o diálogo proposto nas edições anteriores do evento (1º SPSB2º SPSB e 3ºSPSB) que resultaram na publicação de livros oriundos das áreas temáticas presentes anteriormente (Coleção Pensamento Social Brasileiro-Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4), publicarmos novos livros oriundos desta edição do evento e que novas conexões possam ser criadas. Com esses sentimentos de alegria e reencontro, lhes desejamos boas-vindas!

  • GT1 - Brasil: encruzilhadas na defesa da democracia
  • GT2 - Cinema e Quadrinhos como categorias de análise acerca do Pensamento Social Brasileiro
  • GT3 - Elites, poder e instituições democráticas
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  • GT7 - Indisciplinando o cânone: diálogos, legados e resistências a partir do pensamento afrodiaspórico brasileiro para a compreensão da(s) realidade(s)
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