Uma análise interpretativa da obra Os Herdeiros, os estudantes e a cultura, de Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron

  • Autor
  • Geraldo Afonso de Andrade
  • Resumo
  •  

    IV Seminário de Pensamento Social Brasileiro

    Resumo Científico

     

    Autor: Geraldo Afonso de Andrade

    Instituição: Universidade Estadual de Maringá - UEM

    Ano: 2025

     

     

     

    Uma análise interpretativa da obra Os Herdeiros, os estudantes e a cultura, de Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron

    Palavras-chave: reprodução social; herança cultural; sociologia da educação; desigualdade educacional; Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron.

    O artigo propõe uma leitura crítica da obra Os Herdeiros, os estudantes e a cultura, de Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, publicada em 1964. Essa obra é considerada fundadora da sociologia da educação contemporânea e teve profunda influência na produção acadêmica brasileira sobre desigualdades educacionais, sendo amplamente mobilizada para analisar os mecanismos de exclusão e seleção no sistema de ensino.

    “Les Héritiers” revela os processos de reprodução das desigualdades sociais mediados pela escola, ao evidenciar a afinidade entre cultura escolar e cultura de classe dominante. No texto interpretativo, o conceito de herança cultural é central para desvelar como a escola atua seletivamente, favorecendo estudantes das classes médias e altas. A pesquisa empírica dos autores demonstra que o desempenho escolar está menos relacionado à inteligência individual do que à posse de códigos culturais legitimados pela instituição.

    A obra questiona a neutralidade da escola e desmistifica a ideia de mérito como único critério de sucesso. Mostra que estudantes das camadas populares enfrentam barreiras simbólicas e institucionais que dificultam o acesso e a permanência no ensino superior. O fracasso escolar é, assim, interpretado como um produto social, e não uma falha individual.

    O conceito de “herança cultural”, contribui para explicar a permanência das desigualdades: os filhos das elites chegam à escola munidos de disposições culturais valorizadas, que facilitam sua trajetória acadêmica. A escola, por sua vez, tende a universalizar essas formas de saber como se fossem neutras, legitimando simbolicamente um arbitrário cultural de classe.

    A análise interpretativa também destaca o caráter inovador da obra ao romper com explicações psicologizantes do fracasso escolar. Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron evidenciam que a estrutura das oportunidades educacionais está estreitamente ligada à origem social dos estudantes, e que os critérios avaliativos escolares estão impregnados por pressupostos de classe. Trata-se de uma crítica contundente à ideologia do mérito, que mascara as relações de poder no interior das instituições educativas.

    Mesmo tratando da realidade francesa dos anos 1960, a obra mantém forte atualidade no contexto brasileiro. As desigualdades estruturais e o acesso desigual à herança cultural ainda caracterizam o sistema educacional no país. O artigo estabelece paralelos com os desafios brasileiros, defendendo políticas públicas que promovam uma democratização efetiva do ensino, com inclusão e valorização da diversidade cultural.

    Do ponto de vista metodológico, ressalta-se o rigor teórico e empírico de Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, bem como seu compromisso com uma sociologia crítica. A noção de violência simbólica, esboçada em Os Herdeiros, antecipa debates fundamentais sobre como a escola legitima desigualdades ao atribuir-lhes aparência de justiça.

    Conclui-se que Os Herdeiros é uma obra fundacional para os estudos críticos da educação. Ao desnudar os vínculos entre cultura escolar e estrutura social, a obra convida à revisão das práticas pedagógicas e dos critérios de avaliação. O combate às desigualdades exige mais que reformas educacionais — requer mudanças profundas na forma como o saber é produzido e legitimado. Por isso, a leitura de Os Herdeiros segue essencial para quem busca uma educação verdadeiramente democrática.

     

  • Palavras-chave
  • Palavras-chave: reprodução social; herança cultural; sociologia da educação; desigualdade educacional; Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron.
  • Área Temática
  • GT3 - Elites, poder e instituições democráticas
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O 4º Seminário de Pensamento Social Brasileiro: intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, será realizado entre os dias 2 e 6 de junho de 2025, no formato híbrido. A programação presencial será realizada nas dependências do CCHN-Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, enquanto a programação virtual será transmitida pelas páginas oficiais do evento no YouTube e pela DoityPlay. Nesta edição contaremos com Conferência de Abertura, Grupos de Trabalho (modalidade virtual) e Conferência de Encerramento. Esperamos retomar o diálogo proposto nas edições anteriores do evento (1º SPSB2º SPSB e 3ºSPSB) que resultaram na publicação de livros oriundos das áreas temáticas presentes anteriormente (Coleção Pensamento Social Brasileiro-Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4), publicarmos novos livros oriundos desta edição do evento e que novas conexões possam ser criadas. Com esses sentimentos de alegria e reencontro, lhes desejamos boas-vindas!

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