As principais análises de cunho sociológico sobre o modernismo brasileiro definem seu significado político como expressão de uma cultura autoritária e conservadora produzida por frações de uma elite oligárquica. As elaborações modernistas sobre a identidade nacional são negligenciadas ou depreciadas como artefatos míticos configuradores de uma ideologia do estamento dominante ou de caráter pré-político. Por seu turno, no campo dos estudos literários, vigoram exegeses de obras modernistas voltadas mais especificamente para a elucidação de aspectos formais ou estilísticos, decerto, sendo assinalado seu componente de inovação artística. Se algumas dessas investigações incorporam a temática da identidade, não trazem, contudo, uma reflexão pormenorizada e teoricamente fundamentada do seu significado político, bem como não procuram contrastá-lo com noções de certo modo estabilizadas sobre o modernismo no âmbito das ciências sociais. Além disso, importantes trabalhos que abarcam interpretações do modernismo numa perspectiva sociológica utilizam o intelectual como categoria analítica. A despeito de sua contribuição à compreensão do movimento, certas implicações do trabalho de criação simbólica não são devidamente apreendidas a partir desse tipo de abordagem, demandando um esforço de investigação que incorpore uma reflexão sobre os sentidos produzidos pelas obras modernistas.
Portanto, se a associação do modernismo brasileiro a um programa de ruptura estética tem sido amplamente reconhecida por estudos nas diferentes áreas de conhecimento, na avaliação de sua significação política, importantes análises identificam o movimento com uma cultura conservadora, em especial, como expressão de representantes de uma elite oligárquica. Reconhecendo a relevância dessas análises, uma reflexão centrada nas elaborações modernistas sobre a identidade brasileira, a partir mais propriamente de uma compreensão dos processos simbólicos, pode contribuir para uma reverificação das repercussões políticas do movimento.
Dessa forma, esta proposta tem como objetivo visitar a literatura mais pertinente sobre o tema e procurar apresentar um outro ponto de vista complementar a teses clássicas que o abordam mais especificamente a partir de condicionantes classistas da atividade intelectual. A formulação desse ponto de vista, privilegiadamente voltado para a compreensão dos sentidos veiculados pelas criações artísticas modernistas, pode ser pertinente, ao representar uma contribuição para uma interpretação mais ponderada do movimento.
O 4º Seminário de Pensamento Social Brasileiro: intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, será realizado entre os dias 2 e 6 de junho de 2025, no formato híbrido. A programação presencial será realizada nas dependências do CCHN-Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, enquanto a programação virtual será transmitida pelas páginas oficiais do evento no YouTube e pela DoityPlay. Nesta edição contaremos com Conferência de Abertura, Grupos de Trabalho (modalidade virtual) e Conferência de Encerramento. Esperamos retomar o diálogo proposto nas edições anteriores do evento (1º SPSB, 2º SPSB e 3ºSPSB) que resultaram na publicação de livros oriundos das áreas temáticas presentes anteriormente (Coleção Pensamento Social Brasileiro-Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4), publicarmos novos livros oriundos desta edição do evento e que novas conexões possam ser criadas. Com esses sentimentos de alegria e reencontro, lhes desejamos boas-vindas!