“Você nunca viu nada tããão grande”: discutindo os ensaios nus de homens negros na G Magazine

  • Autor
  • Abel Calisto Bendito
  • Resumo
  • A Revista G Magazine (1997-2012) é considerada uma das mais consumidas formas de Imprensa LGBTQIA+ no Brasil, destacada nesse meio por sua longevidade. O estudo apresentado é fruto do PIBIC “Tamanhos, cores, formatos: uma história do pênis como pedagogia das masculinidades (1979-2012)”, fomentado pela Universidade Federal da Paraíba, do qual participo enquanto bolsista. As edições utilizadas no recorte temático do trabalho foram escolhidas para o presente estudo por conterem ensaios nus protagonizados por homens negros. O estudo apresentado objetiva problematizar as práticas discursivas e imagéticas que são atribuídas a homens negros e, especificamente, a homens negros brasileiros, estranhando as representações dadas como naturais à masculinidade negra. A análise será feita com base nas edições n. 109, n. 113, n. 115, n. 117 e n. 123, lançadas entre novembro de 2006 a dezembro de 2007, pertencentes ao acervo físico pessoal do professor-orientador. A partir dos estudos de bell hooks sobre masculinidades negras, do conceito de dispositivo de racialidade de Sueli Carneiro, e da tecnologia de gênero de Teresa De Lauretis, analiso as representações discursivas e imagéticas de homens negros na G Magazine através desses ensaios, propondo uma perspectiva interseccional na ánalise a fim de compreendermos os atravessamentos de raça e gênero que podemos encontrar nas representações abordadas das masculinidades negras. A G Magazine é apresentada aqui como produto de um vasto dispositivo de racialidade composto, dentre outras coisas, de representações sobre as masculinidades negras e os corpos de homens negros. Mas a revista G não é apenas o produto, se configurando também como produtora de tecnologias da masculinidade que atravessam esses corpos (por exemplo, reproduzindo a ideia da sexualidade negra selvagem) e simultaneamente produzindo novas imagens acerca desse discurso no imaginário do público leitor. Nesse sentido, acredito ser urgente que a tecnologia de gênero de Teresa De Lauretis encontre as interdições do dispositivo de racialidade de Sueli Carneiro, e proponho uma perspectiva interseccional. A construção e perpetuação discursiva do gênero no tocante às masculinidades negras são atravessadas diferentemente de outras masculinidades, e a possibilidade de entendermos como o gênero atua na experiência dos homens negros só é possível ao pensarmos também a raça, o dispositivo de racialidade como proposto por Carneiro. Através de práticas discursivas e imagéticas, os ensaios reproduzem estereótipos hipersexualizados atribuídos a homens negros brasileiros, como a figura do “malandro”, utilizam de signos de servidão e submissão, exploram temas como o exotismo e a sexualidade dominante e, em especial, focam no tamanho do pênis dos modelos nus, fotografado por vezes quase como um órgão autônomo em relação ao restante de seus corpos. Segundo ambas as intelectuais negras bell hooks e Sueli Carneiro, o raciocínio patriarcal branco, obcecado com o sexo justamente pela repressão deste na cultura cristã, projeta no continente africano noções de hipersexualidade inexistentes antes da colonização, aplicando noções de exotismo e selvageria àqueles corpos e negando-os a noção de humanidade. Assim, as representações de homens negros na G Magazine presentes nas edições estudadas perpetuam em parte ou completamente essas ideias racistas do raciocínio patriarcal branco acerca de corpos negros: todos os modelos presentes se encaixam no esteriótipo do “negão”, homens grandes, musculosos e hipersexualizados, cujo “dote” é sempre ressaltado pelo tamanho, que “é de assustar e de atiçar qualquer libido”, sempre atravessados pelo olhar branco que canibaliza e deseja tais corpos. Em suma, o misterioso se transforma no monstruoso, e o “monstro sexual” é projetado no homem negro, apresentado no esteriótipo racial do “negão”, intermediário entre homem e animal, símbolo de luxúria e perigo.

     

  • Palavras-chave
  • Masculinidades, Masculinidades negras, Imprensa LGBTQIA+, Relações de Gênero
  • Área Temática
  • GT7 - Indisciplinando o cânone: diálogos, legados e resistências a partir do pensamento afrodiaspórico brasileiro para a compreensão da(s) realidade(s)
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O 4º Seminário de Pensamento Social Brasileiro: intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, será realizado entre os dias 2 e 6 de junho de 2025, no formato híbrido. A programação presencial será realizada nas dependências do CCHN-Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, enquanto a programação virtual será transmitida pelas páginas oficiais do evento no YouTube e pela DoityPlay. Nesta edição contaremos com Conferência de Abertura, Grupos de Trabalho (modalidade virtual) e Conferência de Encerramento. Esperamos retomar o diálogo proposto nas edições anteriores do evento (1º SPSB2º SPSB e 3ºSPSB) que resultaram na publicação de livros oriundos das áreas temáticas presentes anteriormente (Coleção Pensamento Social Brasileiro-Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4), publicarmos novos livros oriundos desta edição do evento e que novas conexões possam ser criadas. Com esses sentimentos de alegria e reencontro, lhes desejamos boas-vindas!

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