A recepção de Nietzsche no Brasil, no período de transição entre os séculos XIX e XX, ocorreu em um contexto político e cultural permeado por debates sobre modernidade, ciência e nacionalismo. A sua presença é marcante junto às culturas intelectuais brasileiras. Desde que mencionado por Tobias Barreto em 1876, o seu nome foi mobilizado em diferentes contextos, situações e momentos, havendo já na década final do oitocentos disputas pelo entendimento das suas ideias, bem como alguns artigos dedicados ao seu pensamento, embora a sua presença fosse mais recorrente como recurso de persuasão retórica próprio a um sistema intelectual atravessado pela auditividade, onde foi instrumentalizado em contendas e polêmicas por opiniões intelectuais, fator que resultou em um movimento de recepção muito polarizado, emergindo dele caracterizações positivas e negativas que se intensificavam ainda mais quando passavam a invocar a sua biografia. Nietzsche foi tornando-se cada vez mais conhecido e, no início do século, já era considerado um autor da moda. Entre os seus primeiros leitores, encontramos Elysio de Carvalho, cuja trajetória intelectual oscilou entre o anarquismo individualista, o aristocratismo e, nos últimos anos de vida, o nacionalismo autoritário.
Esta apresentação examina parte dessa recepção a partir do ensaio Esplendor e decadência da sociedade brasileira (1911), obra na qual Elysio de Carvalho mobiliza conceitos nietzschianos para construir uma análise social e política do país com perfil bastante conservador. A análise do texto permite compreender como Nietzsche foi apropriado de modo seletivo e, muitas das vezes, deslocado do seu contexto original. A mutação ideológica do autor sugere uma adaptação instrumental do pensamento nietzschiano às suas sucessivas visões de mundo. A comunicação busca, assim, não apenas evidenciar a presença de Nietzsche no pensamento brasileiro, mas também refletir sobre os usos das suas ideias em meio às disputas intelectuais da Primeira República.
O 4º Seminário de Pensamento Social Brasileiro: intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, será realizado entre os dias 2 e 6 de junho de 2025, no formato híbrido. A programação presencial será realizada nas dependências do CCHN-Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, enquanto a programação virtual será transmitida pelas páginas oficiais do evento no YouTube e pela DoityPlay. Nesta edição contaremos com Conferência de Abertura, Grupos de Trabalho (modalidade virtual) e Conferência de Encerramento. Esperamos retomar o diálogo proposto nas edições anteriores do evento (1º SPSB, 2º SPSB e 3ºSPSB) que resultaram na publicação de livros oriundos das áreas temáticas presentes anteriormente (Coleção Pensamento Social Brasileiro-Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4), publicarmos novos livros oriundos desta edição do evento e que novas conexões possam ser criadas. Com esses sentimentos de alegria e reencontro, lhes desejamos boas-vindas!