As elites regionais brasileiras seguiram até a década de 1940, via de regra, o mesmo caminho formativo: cursos superiores profissionalizantes em áreas como direito, medicina e engenharia. Nos principais centros urbanos do país, as classes dirigentes eram formadas pelos filhos dos ramos pobres e falidos da aristocracia agrária, por funcionários públicos e por alguns poucos escritores profissionais ligados ao mercado literário e à imprensa. A boemia, as organizações partidárias, os clubes e as academias literárias diletantes – Institutos Históricos e Academia de Letras – eram os espaços privilegiados de sociabilidade para os intelectuais que compunham essa classe dirigente, principalmente os que se lançaram a essa posição a partir da década 1920 (Miceli, 2001). Esse paradigma do intelectual oligárquico modernista (Napolitano, 2022) entrou em declínio com o surgimento das universidades, dos institutos de pesquisa e da burocracia cultural e técnica do Estado (Mota, 2008; Miceli, 2001; Arruda, 2015; Pontes, 1998). Esses espaços, sobretudo no pós-guerra, passaram a exigir uma especialização maior que a do velho intelectual generalista e bacharelesco. No Recife, esse intelectual de novo tipo surge atrelado a uma nova sensibilidade em relação à pobreza (Souza, 2023). Essa evidência nos leva a analisar o perfil dos intelectuais que contribuíram para colocar a questão do subdesenvolvimento na ordem do dia nesse meio de século XX. A partir de uma solução metodológica prosopográfica, nossas reflexões analisam o entrecruzamento das redes intelectuais do Recife, agentes e instituições que marcaram a cena cultural da cidade, como uma determinada experiência urbana, marcada pelo “espetáculo da pobreza” (Bresciani, 1982). Essa perspectiva nos impôs responder às seguintes questões: é possível falar em perfil coletivo desses intelectuais nesse meio de século em Recife? A experiência urbana dessa elite intelectual, aliada às características socioeconômicas locais, contribuiu para uma percepção peculiar da miséria que desembocou em uma reflexão sobre o subdesenvolvimento? A produção cultural desses grupos intelectuais pode ser entendida como uma espécie de contra-elite? A escrita dessa história política ganhou contornos a partir de uma abordagem teórica que justapôs os campos da história das cidades e da história das elites intelectuais.
O 4º Seminário de Pensamento Social Brasileiro: intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, será realizado entre os dias 2 e 6 de junho de 2025, no formato híbrido. A programação presencial será realizada nas dependências do CCHN-Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, enquanto a programação virtual será transmitida pelas páginas oficiais do evento no YouTube e pela DoityPlay. Nesta edição contaremos com Conferência de Abertura, Grupos de Trabalho (modalidade virtual) e Conferência de Encerramento. Esperamos retomar o diálogo proposto nas edições anteriores do evento (1º SPSB, 2º SPSB e 3ºSPSB) que resultaram na publicação de livros oriundos das áreas temáticas presentes anteriormente (Coleção Pensamento Social Brasileiro-Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4), publicarmos novos livros oriundos desta edição do evento e que novas conexões possam ser criadas. Com esses sentimentos de alegria e reencontro, lhes desejamos boas-vindas!