Oliveira Vianna e o nacionalismo autoritário

  • Autor
  • Lucas Paes Rett
  • Resumo
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    Oliveira Vianna e o nacionalismo autoritário

    Este trabalho, relacionado à minha pesquisa de mestrado, analisa o pensamento autoritário no Brasil, com foco na atuação de Oliveira Vianna na estruturação política e jurídica do Estado Novo. Insere-se no debate sobre nacionalismo e construção do Estado, abordando a formação das elites políticas e a centralização do poder no século XX.

    Neste estudo, examina-se a transição do pensamento nacionalista brasileiro do final do século XIX até a década de 1930, articulando suas relações com o autoritarismo emergente. Inicialmente, o nacionalismo estava ancorado na ideia de formação racial como fundamento da identidade nacional. Oliveira Vianna, figura central desse debate, propôs em Populações Meridionais do Brasil (1920) uma tipologia étnico-psicológica do país, destacando a mestiçagem como elemento essencial, ainda sob forte influência do pensamento evolucionista e culturalista.

    A partir da década de 1920, observa-se um deslocamento no eixo do nacionalismo: do enfoque racial para a defesa de um projeto de Estado forte e centralizado, capaz de construir a unidade nacional. Essa transição foi impulsionada pela percepção de que a fragmentação política herdada da Primeira República inviabilizava a consolidação de uma verdadeira nação. O nacionalismo, portanto, torna-se, para Vianna e outros intelectuais, um projeto político de transformação social que requeria a reforma autoritária do Estado.

    Amparado nas categorias analíticas de Koselleck, o estudo interpreta o nacionalismo como um conceito histórico resultante da tensão entre o espaço de experiência colonial e o horizonte de expectativas da modernidade. A análise da formação da Nação no Brasil, entre o final do Império e o início da República, passa pela aceleração temporal que fragmenta a experiência histórica e confere dinamismo a diferentes estratos sociais e políticos. Assim, embora distintas gerações compartilhassem um mesmo espaço de experiência, as interpretações desse espaço se diversificavam conforme as posições sociais e políticas. Nesse cenário de rupturas e instabilidades, a defesa da centralização estatal emerge como resposta às fragilidades provocadas pela descentralização liberal da República Velha.

    O nacionalismo autoritário encontrou eco em diversas correntes, como o modernismo de 1922, o movimento católico e o integralismo. Cada qual, à sua maneira, defendia a necessidade de um Estado centralizado como agente modelador da identidade nacional. O trabalho evidencia ainda como a crise da Primeira República, o fortalecimento dos ideais antiliberais e a ascensão das ideologias de intervenção consolidaram o autoritarismo como instrumento necessário à formação de um Estado nacional moderno. A Revolução de 1930, marco dessa nova fase, institucionalizou a aproximação entre intelectuais e o poder estatal, com Oliveira Vianna desempenhando papel-chave na legitimação teórica do Estado Novo e na formulação de políticas voltadas à integração nacional sob um regime centralizador e autoritário.

    Dessa forma, o nacionalismo no Brasil, desse período, é apresentado como um projeto consciente de construção do Estado, em que identidade nacional e autoritarismo surgem como elementos complementares, dirigidos pela elite intelectual para moldar o futuro da sociedade brasileira.

     

     

  • Palavras-chave
  • Oliveira Vianna, nacionalismo, autoritarismo, Estado Novo
  • Área Temática
  • GT6 - Identidades nacionais, a tradição de Pensamento Social Brasileiro e seus críticos
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