É sabido que ao longo dos anos 40 e 50 o crescimento econômico, urbano e industrial do país teve papel central na expansão do mercado de bens culturais (Ortiz, 1995). Nesse sentido, os ditos ‘movimentos’ musicais brasileiros surgiram em meio ao inchaço das grandes cidades e das complexificações político-sociais da organização do território. Tomando como centro da análise a categoria “MPB”, será possível compreender que os fluxos por trás da construção histórica da sigla esboçavam diferentes esforços. Como sinalizado por Napolitano (2010), o significante por trás de MPB (Música Popular Brasileira), mais expele um momentum do que um conceito estático, sinalizando uma institucionalização que se deu através dos entraves e embates ocorridos no circuito musical a partir da década de 50. Dessa maneira, o presente trabalho pretende analisar como se deu a formação do cânone que assentou o conceito de MPB, visando mapear alguns artistas que, sendo selecionados em detrimento de outros, monopolizaram a legitimidade da sigla e do debate.
De acordo com Bourdieu (1996), o campo artístico goza de instancias que engendram seu funcionamento a partir de estruturas captadas e consentidas pela ação dos indivíduos que escolhem ingressar ali. Sendo assim, o valor da crença no campo é fundamental para que as disputas se desenrolem numa espécie de jogo em que os pares vestem papéis opositores para que o próprio campo funcione enquanto organismo vivo e autônomo. Logo, a canonização opera como um véu que recai sob certos pares a fim de submergi-los como expoentes principais de uma ideia ou da própria ideia de ‘organicidade’ do circuito.
Tomando como período de análise as décadas de 60 e 70 – período em que a indústria fonográfica já estava assentada e os circuitos musicais já incorporavam artistas das mais variadas frentes – o artigo pretende discutir o sentido da canonização em torno da ideia suscitada pelo termo MPB.
Retomando textos que outrora já trabalharam com a rede de possibilidades do conceito (Napolitano, 2010; Naves, 2000; Ridenti, 2010; Tinhorão, 1990) e seus desdobramentos, se buscará situar na teia de uma análise sociológica relacional, buscando interpolar as preferências estéticas e sonoras de determinados pares sob outros, construindo, por fim, apontamentos que suscitem algumas ideias em torno dos sentidos e valores presente no cânone da MPB.
Referências:
BOURDIEU, Pierre. As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário. São Paulo: Companhia das letras, 1996.
NAPOLITANO, Marcos. Seguindo a Canção: Engajamento Político e Indústria Cultural na MPB (1959-1969) – São Paulo, Annablume e Fapesp. 2010.
NAVES, S. C.; Da Bossa Nova à Tropicália. RBC.S vol 15. nº43. junho, 2000.
ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira: cultura brasileira e indústria cultural. Ed brasiliene, UNICAMP. Campinas, 1995.
RIDENTI, Marcelo. Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da TV. 2ed. rev e ampl. São Paulo: Editora Unesp, 2014.
TINHORÃO, José Ramos. História social da Música Popular Brasileira, Lisboa, Caminhos, 1990.
O 4º Seminário de Pensamento Social Brasileiro: intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, será realizado entre os dias 2 e 6 de junho de 2025, no formato híbrido. A programação presencial será realizada nas dependências do CCHN-Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, enquanto a programação virtual será transmitida pelas páginas oficiais do evento no YouTube e pela DoityPlay. Nesta edição contaremos com Conferência de Abertura, Grupos de Trabalho (modalidade virtual) e Conferência de Encerramento. Esperamos retomar o diálogo proposto nas edições anteriores do evento (1º SPSB, 2º SPSB e 3ºSPSB) que resultaram na publicação de livros oriundos das áreas temáticas presentes anteriormente (Coleção Pensamento Social Brasileiro-Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4), publicarmos novos livros oriundos desta edição do evento e que novas conexões possam ser criadas. Com esses sentimentos de alegria e reencontro, lhes desejamos boas-vindas!