O documentário Democracia em Vertigem, lançado em 2019, e dirigido pela cineasta Petra Costa, constitui um objeto profícuo para a análise sociopolítica do Brasil, ao articular, a partir da linguagem audiovisual, memórias pessoais e interpretações históricas acerca dos processos históricos que culminaram na crise da democracia do país entre 2016 e os dias de hoje. A obra caracteriza-se por sua perspectiva subjetiva e autorreferencial na reconstrução de eventos como a ascensão do Partido dos Trabalhadores (PT), a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva e o golpe que derrubou a presidente Dilma Rousseff, compondo um mosaico narrativo atravessado pelas disputas narrativas que procuraram dar sentido a esses processos.
Este trabalho propõe uma investigação dos discursos políticos presentes no documentário, para além de suas posições objetivas, buscando compreender de que maneira suas escolhas estéticas e técnicas reiteram os discursos políticos e atingem o público de forma a reforçar sua mensagem. A análise busca, também, compreender como o filme opera como um artefato discursivo que tensiona narrativas hegemônicas sobre os eventos retratados, promovendo uma leitura crítica que desloca o debate público dos discursos hegemônicos.
Tão importante quanto seu conteúdo político, Democracia em Vertigem destaca-se por seu alcance e visibilidade. O documentário repercutiu nacional e internacionalmente, foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2020 e foi exibido pela plataforma Netflix. Sua visibilidade contribuiu para evidenciar a crise política brasileira no circuito do debate internacional e o papel do cinema documental como mediador de discursos e como forma de elaboração simbólica de processos históricos. A obra também provocou intensas reações no campo político e na opinião pública brasileira, sendo elogiada por seu engajamento crítico, mas também criticada por setores que a interpretaram como altamente tendenciosa.
Ao analisarmos a narrativa construída por Petra Costa, esta comunicação procura evidenciar como o audiovisual pode contribuir para o campo do pensamento social brasileiro na medida em que mobiliza, por meio de suas representações, recursos discursivos, estéticos e políticos na construção de uma memória pública de eventos considerados "históricos". O estudo pretende, assim, refletir sobre as formas de produção e circulação de sentidos em contextos de alta polarização e sobre o papel da arte na disputa por legitimidade.
O 4º Seminário de Pensamento Social Brasileiro: intelectuais, cultura e democracia, organizado pelo NETSIB-UFES, será realizado entre os dias 2 e 6 de junho de 2025, no formato híbrido. A programação presencial será realizada nas dependências do CCHN-Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo, enquanto a programação virtual será transmitida pelas páginas oficiais do evento no YouTube e pela DoityPlay. Nesta edição contaremos com Conferência de Abertura, Grupos de Trabalho (modalidade virtual) e Conferência de Encerramento. Esperamos retomar o diálogo proposto nas edições anteriores do evento (1º SPSB, 2º SPSB e 3ºSPSB) que resultaram na publicação de livros oriundos das áreas temáticas presentes anteriormente (Coleção Pensamento Social Brasileiro-Volume 1 Volume 2 Volume 3 Volume 4), publicarmos novos livros oriundos desta edição do evento e que novas conexões possam ser criadas. Com esses sentimentos de alegria e reencontro, lhes desejamos boas-vindas!