O republicanismo conservador na sociologia de Florestan Fernandes

  • Autor
  • Elson dos Santos Gomes Junior
  • Resumo
  •  

    O conservadorismo é um tema central na construção da modernidade burguesa, como também, nos debates político-sociais que a consolidou. Sendo, por isso, uma das principais correntes políticas deste quadro sócio-histórico, importa sua análise para a compreensão de suas gramáticas políticas, assim como de seus efeitos sobre a realidade histórica de inúmeros Estados. Nestes termos, este trabalho tem o objetivo de apresentar a crítica de Florestan Fernandes aos ideais republicanos conservadores, cuja análise se debruça detidamente sobre as instâncias da cultura, da sociedade de classes e, por último, na organização política. Destes pontos, propomos uma leitura do ideário republicano no capitalismo dependente que, na sociologia de Florestan, destoa, e muito, do conteúdo semântico defendido e veiculado pelos estratos elitistas. Esta dissonância se encontra na disparidade existente entre os miseráveis da terra – os negros, o povo – e os estratos elitistas e sua ideologia de totalidade social, reiterada em discursos nacionalistas e suas variantes. A metodologia aplicada é de cunho qualitativo-bibliográfico e pautou-se sobre a história dos conceitos de Reinhart Koselleck que, em sua crítica a modernidade, demonstrou o descompasso entre as promessas da modernidade burguesa e a efetividade histórica e distributiva de suas ideologias – com exceção dos estratos dominantes. Os resultados foram construídos por meio de análises temáticas dentro da obra de Florestan Fernandes, cujo percurso explicativo conduziu às seguintes conclusões. Primeiro, o debate pela hegemonia discursiva do social e sua aversão a ciência é uma questão histórica, que pode ser verificada na perspectiva de longa duração proposta por Florestan. Neste sentido, a disputa pela hegemonia da explicação do social é um alerta contido na sociologia florestaniana que se mostra atual e necessário, principalmente, por sinalizar para a necessidade de fortalecimento da ciência como ancoradouro de projetos autoritários e ditatoriais de sociedade. Segundo, a sociedade de classes no capitalismo dependente, é caracterizada por uma organização “selvagem”, que desumaniza ao extremo as relações sociais econômicas com o fito de garantir o ritmo de acumulação do capital. Terceiro, a organização política é ritualista, de modo que a democracia representativa se volta para a população somente como forma de legitimá-la, tanto em termos institucionais quanto de valores. Deste quadro, concluímos com Florestan que as sociedades de capitalismo dependente, com as características supracitadas, se enquadram na definição de Repúblicas Conservadoras. Contudo, ao contrário do conservadorismo institucional e de valores presente nas obras de autores como Edmund Burke e Alexis de Tocqueville, estas sociedades se caracterizam pelo conservadorismo de classe, produzido e reproduzido historicamente pelo domínio – ou busca pelo domínio – das dimensões da cultura, economia e política. Estes evidenciam os pilares das repúblicas conservadoras.

  • Palavras-chave
  • Conservadorismo, República, Cultura, Classes, Política.
  • Área Temática
  • GT6 - Identidades nacionais, a tradição de Pensamento Social Brasileiro e seus críticos
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